segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"onde ninguém sabe o meu nome"

talvez porque mentir às vezes não basta pra se fugir daquilo que anseias. e mesmo que não se importe, nossas cidades não são suficientes pra cobrir as nossas vidas. percebemos o quanto sofremos quando decidimos ficar, porque ficar é enfrentar aquilo que se sente e nem sempre se acredita. têm dias que somos impulsionados por uma vontade ligeira de ir embora e simplesmente queimar a identidade, mudar de nome e criar outra ótica daquilo que somos. esses dias são para nós refúgios para aquilo que sentimos agora, fuga daquilo que construímos no decorrer do tempo. seria medo de viver o tempo que nos é agora ou forma racional de entender o presente como outro lugar, lugar em que não somos apenas, representamos as vontades que sentimos. e como poderia ser a vida se de fato a aproveitássemos como ausência, esquecendo que aquilo que sentimos é presença do que se foi. não estou enganando a ninguém porque o que eu sinto tem demonstrado que um pouco de mim ainda insiste em viver, longe de quartos fechados, lençóis limpos e água benta. já me cansei de rezar por dias em que pensei ser tudo normal, cansei de pensar que o que se tem é de verdade, cansei de sonhar com todos os sentidos. tenho pensado em ser mais oposição. ser do contra implica em crítica, reflexão e insistência. apesar de que ser crítica não tem me ajudado muitas vezes, penso no bem que isso pode fazer naquele tempo que se prolonga. é, nem sempre atingimos o que queremos repentinamente. trata-se de tempo, vontade e paciência. ser paciente é refletir sobre aquilo que defendes com unhas e dentes, e nunca, nunca esquecer-se que as cidades que anseias nem sempre estão tão perto das estradas que percorres, por isso, precisas encontrar aquele ponto que deu origem à partida sem esquecer-se do caminho de volta. é que se for pra esquecer, deve ser pra nunca mais se machucar. começar do zero, sem cheiros, muito menos vozes. é exorcizar os fantasmas que insistem em puxar a sua coberta no meio do sono sem sentido. agora, insistir no erro, aquele que te diz com voz forte e sem se segurar: por mais que queiras sabes que a estrada é longa e o caminho confuso... fico pensando, não se trata de ser muito mais além, diz respeito ao modo como abordamos aquilo que arrepia o corpo e mesmo assim permanece inquieto. era muito mais fácil ir embora, pra boston, califórnia, ou qualquer outro lugar que te reveste de segurança, ao invés de coragem. só que começar de novo aqui pode valer muito mais a pena do que fugir por medo daquilo que se sente ao perceber que recomeçar nem sempre é abrir mão daquilo que acreditas. seja você mesmo, independente do lugar que estejas. preserve a autenticidade do teu sorriso e aquilo que te cura pode vir de imediato, ainda que coberto da insegurança que te faz recuar quando seus olhos não fecham, mas as luzes se mantém apagadas.

domingo, 29 de agosto de 2010

"Olhar com amor requer um tempo que pessoas de passagem não podem e não devem ter"

É inverno e contar o tempo por estações tem mostrado o quanto tudo tem passado tão rápido por nós. Ontem, pude sentir a linha do tempo preto e branca correndo como um filme de nossa autoria, autêntico e intenso, rodar por milésimos de segundos em minha mente. Lembrei da vez em que te vi de cabelo descolorido, tu e mais dois de ti, cantando como se aquilo fosse a coisa mais bonita de nosso mundo. E, talvez, você tenha levado a sério demais e cantar é a coisa mais bonita da tua vida. É o motivo da vinda, mas agora, existe enquanto partida. Perder você para os teus sonhos não me entristece, mas não posso deixar de falar do buraco que você ousou traçar em mim quando decidiu ir embora. Muitos não gostam de mim no início, alguns permanecem não gostando e raros (você se inclui aqui) conseguem decifrar um pouco do que sou e entendem que para se gostar de verdade, é preciso ter paciência e pode levar estações inteirinhas. Ouvi de você há dias: "Parece que eu te conheço há tanto tempo" e esse foi o mesmo dia que conheci a tua história. E me apaixonei. Apaixonaria-me por ti em outras estações se tivesse tido a chance daquela noite, em que te ouvi falar sobre teus sonhos, ilusões, desejos, satisfações e coragens. E sabe por que eu me arriscaria por ti? Porque reconheço, de imediato, uma alma que me completa. Estou em busca dos meus hiatos perdidos em cenários que desconheço, você pode não saber, mas preenches uma parte de mim que se chama verdade. Eu gosto do modo como quando as coisas chegam em tuas mãos, tornam-se verdade. Você faz de letras, músicas. Faz de sons, melodias. E, podes ter certeza, você faz de mim, perseverança. Até em marte eu pude ver a lua da tua ótica caótica, mas ao mesmo tempo simples. Porque sim, você é simples e isso o torna singular para mim. O teu sotaque que insistiu em continuar mesmo aqui onde os dialetos se misturam fazendo de todos um só, torna a tua essência ainda maior. Pra quem diz que você não se encontrou, grito: Quem é que precisa se encontrar para fazer aquilo que acredita? Metas? Planos? Não sejamos tão reducionistas. Eu adoro o modo como você pega na minha mão ao falar comigo. Gosto do fato de abrir a sua geladeira e não encontrar absolutamente nada. De você almoçar cachorro-quente todos os dias e não enjoar, ao contrário, satisfazer-se com isso. De como a minha garrafa de café permanece da mesma forma que eu a deixei em outras estações na mesa da tua sala. Da maneira como você apertou forte a minha mão no dia em que o sono nos tomou e fomos impulsionados por um sonhar repentino. Amo o jeito que teus olhos fecham quando você toca Cazuza, e quando tocou pra mim sem nem mesmo ter ensaiado. Eu amo o teu improviso. Tuas reticências que controlam a minha expectativa. O modo como pra você, nada importa, contanto que tenha um violão, uma noite e meia dúzia de cervejas geladas. Gosto da maneira que você faz sorrir tantas outras sem despertar os meus ciúmes. Do carinho com que você deposita palavras pra mim. Queria enumerar todas as coisas que me fazem gostar de você, mas acredito que sentimentos não são enumerados, são contados e é por isso que eu conto. Conto pra ti o quanto o teu canto me faz te querer bem, em paz e fazendo, aqui, ali, acolá, aquilo que você mais ama: encantar pessoas com o som da tua música e encantar a ti mesmo com o escrever da tua história, que eu sei, começa agora, ainda que longe, mesmo que distante. Espero que a saudade seja tema de muitas das tuas canções porque emite por meio da distância toda a natureza daquilo que se sente, quando se sente.

"Eu queria te levar comigo." - Ouvi você dizer enquanto deitada em seu colo me enchia de saudades.
"Me leva, então." - Respondi apertando o mais forte possível a minha cabeça sobre o teu peito, sabia que eram as últimas palavras, por enquanto, por isso quis fazer delas eternas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

É possível parar aquele pensamento que insiste em decifrar as entrelinhas? Aquelas guardadas em meio ao silêncio apropriado, tomadas pelo momento do embate entre: dizer aquilo que não sabe e dizer aquilo que sente. Só que esse momento tem nome. Ele se chama Repentino. Repentino é de baixa estatura e por isso corre rápido, passa por nós sem ao menos percebermos. Gosta dos dias frios porque é quente. Sua temperatura ultrapassa os trinta e seis graus do calor humano. Repentino faz fogo. Gosta do incomum porque existe e se faz existir no endereço da singularidade. Pode chocar em alguns momentos de acomodação mas acomoda em outros momentos de choque. É filho do Inoportuno com a Impulsividade. Detesta o Orgulho, mas sabe conviver com ele e às vezes até o faz desaparecer por uns instantes. Ele gosta de causar espanto, mas tem medo de afastar aqueles que ama por isso. Nem todos estão prontos para o susto, por medo, insegurança e falta de olhar para dentro de si quando Repentino chega. E logo se vai. Como todos, ele já teve um amor do qual recordar. Seu nome era Vontade. Repentino e Vontade queriam abraçar o mundo, mas o abraço dele é curto demais para a longevidade dela. Ele passou correndo por ela muitas vezes e sem conseguir dar as mãos os dois perderam-se na multidão dos sentimentos desconhecidos. Se ela chorou por ele? Em alguns momentos eu a vi suspirar com dor, mas logo se reergueu enchendo os pulmões de ar puro e essência de coragem. Se ele sente a falta dela? Quem sabe. O tempo dos dois passou, assim como ele que por ter pressa perdeu a chance de encontrar as palavras certas pra fazer de Vontade, permanente.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"O diálogo é produzido e mantido através de palavras, sentimentos, ideias que nunca tinham sido trocadas entre eles quando ela ainda vivia. E, também de memórias. O ato de rememoração é forte no romance, o que se explica pelo fato de eles estarem relembrando e narrando momentos que viveram juntos ou separados, momentos contados pela visão masculina e depois pela feminina e vice-e-versa.

É então, que são notadas as diferentes características que levam um ao encontro do outro, que fazem dos dois, seres amigos e apaixonados sem nunca terem tido um contato sexual. Dessa forma, ele conta: “Cansavas-me muito em vida – não paravas de ser, existias demasiado em tudo, solicitavas-me a todo o momento. Eras omnívora: querias devorar a vida de todas as maneiras” ( PEDROSA, p.75). Essa sede de ser dela despertava nele, uma vontade de ser também, porque só ela resgatava a juventude que ele perdera: “Contigo eu podia ir sendo tudo o que tinha para ser, antes e depois e à margem desse trabalho de ser homem.” (PEDROSA, p.66). Ela era ousada com espírito jovial e ele melancólico. A mistura dessas características exercia um só efeito sobre os dois, tornava-os inseparáveis: “Serias capaz de abusar de mim? Porque também eu abusei de ti, tanto. Das tuas ideias, da tua história, do efeito que a minha juventude exercia sobre a tua melancolia” ( PEDROSA, p. 86), conta-nos a personagem feminina. A ousadia dela provocara, sobretudo nele, preocupação e silêncio. Ele gostava de ser jovem com ela, do poder que essa juventude fazia renascer a jovialidade dele, porém, era a linguagem a principal discrepância entre os dois. Ela queria mudar o mundo[1] e ele já havia sido mudado pelo mundo: “Como podes ter vivido tanto e ser tão leve?”, perguntavas-me. Eu respondia-te apenas com sorrisos. Ai de ti se descobrisses que viver demasiado é desistir da vida” (PEDROSA, p.106) desabafa ele sobre esse peso do mundo."



[1] “Eu quero mudar o mundo, tu só queres mudar de cenário” (PEDROSA, p. 27), rememora a personagem em um diálogo dos dois.

PEDROSA, Inês. Fazes-me falta. São Paulo Planeta, 2003.


Resolvi colar um trecho desse pré-ensaio que escrevi para literatura portuguesa na minha sétima fase do curso de letras da UFSC. Diz muito do que acreditamos e muito do que temos vivido. A contemporaneidade atravessa a nossa experiência como uma faca que corta sem ser punida. Temos vivido a violência calados em tempos de guerras mascaradas. Nada pior do que a acomodação daquilo que somos. Acordem, é tempo de mudar o mundo?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

"I thought I’d seen it all when u first walked in, but u shut me up and challenged every wrong perception I’ve had of myself and u haven’t ever stopped"

É hora de redescobrir. De segurança meu corpo tem sido coberto desde que parti. Só que a coberta nem sempre é capaz de te proteger daquilo que você não pode ver e aquele dia em que acordei com os pés submersos de exterioridade e frio pude entender o local em que o medo toca. A Imaginação traz consigo o perigo da volta dos mesmos em outros cenários, envolvidos por outras maluquices e incertezas, repletos de sensações que os fazem continuar ainda que sozinhos. Meramente insistência, fuga ou conforto? O que te puxa de volta para o precipício de que tanto fugiste? As surpresas no decorrer da madrugada, os assuntos codificados por uma ânsia de nunca dizer aquilo que queres, a ilusão dos olhos fechados ainda que atentos... E diante deste cenário sentir-se tomado por uma vontade imensa de permanecer. A cura para a minha invenção é nos mantermos sãos. Sem resquícios de passados, nem desejo de futuro, talvez seja descobrir o nosso tempo a tempo para que durante as descobertas nossos pés entrelaçados não encontrem em meio ao calor a falta que o frio faz quando as vontades se transformam em rotina.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

- Alô?
- Oi, pequena.
- Que saudade! Saudade de ouvir você me chamar de pequena.
- Queria que a distância não tornasse tudo tão longe.
- Ouvir tua voz já me aproxima de ti.
- São Paulo.
- São Paulo?
- Colo semana que vem?
- Queria colo em São Paulo. Afinal, mudar de cenário traz muito mais sentido à fuga.
- Ei, não filosofe, aceite.
- Preciso mais do que um colo, preciso de um consolo.
- Não é de hoje que meu colo é refúgio pra ti, então aceite, eu repito quantas vezes for necessário pra dar sentido a tua fuga.
- E os olhos fechados?
- Do jeito que você gosta, da maneira que você inventou, reinventou, desenhou e coloriu pra nós dois.
- Obrigada.
- Não agradeça. Por mais que seja outra das tuas invenções, eu fico feliz em poder fazer parte dessa verdade inventada.
- Por que ainda não inventaram o tele-transporte?
- Acredite. Nesse instante eu estou muito mais ao teu lado do que em São Paulo.
- Eu queria poder estar aí também.
- Pequena, esquenta as mãos e te alimenta. Não vai demorar muito pra eu te acolher e cuidar da tua insônia.

Nesse instante eu entendi aquilo que li em outros lugares. Quando minha escritora atual favorita ditou: "Éramos infinitos enquanto música" eu traduzi para: "Éramos infinitos enquanto instante, saudade e distância".

sábado, 7 de agosto de 2010

Sim, pintei as unhas de vermelho. Comecei a me arrumar duas horas antes do encontro combinado. Eu não me contive. Por um milagre, a primeira roupa que provei me agradou e assim, segui nos preparativos. Minha mãe sempre disse que "o melhor é o que antecede a festa" e como mãe, ela sempre tem razão. Meus olhos ganharam um contorno preto pra ressaltar o castanho claro escondido pelos meus cílios. As bochechas levemente rosadas. Não sou de muita maquiagem, quase não uso sombra, mas adoro um rímel e um blush. O engraçado é a contradição que fica. São nessas horas que a gente se prepara para uma liberdade imensa. Mas a confiança não vem conosco, precisamos nos proteger por roupas que quase não usamos, sorrisos que quase não damos e salto alto. Tem coisa mais desconfortável do que salto alto? Tem. Aquele sujeito que te incomoda quando tudo o que você deseja é dançar no centro da pista. Essa é a hora de maior liberdade. Quando você só quer fechar os olhos e sentir a música te invadir inteiramente: a cada batida ser tomada pelas mãos e conduzida por uma força além de ti. Mas tem que ter alguém pra te trazer de volta, quem te faz abrir os olhos e te mostra que era ilusão, essa noite não seria a da batida perfeita. Pretendia só dançar e quando o cansaço me invadisse eu já tinha para onde ir. Repirei fundo a fumaça que vinha de baixo e sorri. Meu sorriso é a minha maior arma. Ainda que quebrado, pela metade, sem mostrar os dentes. É ele que mantém essa minha selvageria em insistir que está tudo bem, pois nada foge ao meu controle. E que mania que eu tenho de controlar o mundo, principalmente quando ele insiste em sair das minhas mãos. Querer ter sempre o controle é de certa forma, uma maneira masoquista de enfrentar as coisas, já que controlar não é sinônimo de querer, mas de necessidade e aquilo que necessito é bem diferente do que quero. Tenho necessitado tantos e desejado tão pouco. Esse desejo pequeno me assusta. Afinal, "eu sou porque não me contento"e hoje acrescentaria mais uma palavra a essa frase que um dia usei para me definir, sou tanto porque não me contento quanto porque não me contenho. Por isso acabo em mim com tudo aquilo que parece me agradar. Sei que é ilusão assim como a paixão, mas acredito que a consequência enquanto prevenida é bem menor do que aquela que vem daquilo que nos cega. Por isso, fechar os olhos somente quando estou no meio da pista de dança assegurada pela batida do som que não tem hora para acabar, até que o próximo chegue.
"Ainda que sentir de verdade pareça uma outra vida, às vezes cansa viver dentro das coisas que invento. Com você, mesmo eu inventando tudo também, dá pra ter essa sensação de desordem, atropelamento, vida dizendo e não minha cabeça falastrona. Mesmo sendo ofensivo pra minha existência que pessoas como você existam. Mesmo que sua tristeza e preguiça e desistência mostrem pra minha frescura de sentidos como tudo pode ser amargo e pior: mostre que tudo sempre foi e eu é que, vai ver, sou forte ou abençoada demais pra não sucumbir. Mesmo que sua alegria nunca seja por mim. E que sua alegria torne, quando por mim, minha vida intolerável. Sua existência é um absurdo e isso é a maior verdade que me vem à mente quando penso em você ou estou ao seu lado.
Passamos a tarde juntos. Foi leve e eu estava quieta, coisa que nunca aconteceu nenhuma das vezes que saímos. Eu estava sempre histérica e hoje eu estava muito quieta, até demais. Talvez seja porque eu não tenho mais a euforia louca de ser amada. Eu piro quando alguém me ama e ao ver em você a calmaria dos vencedores corriqueiros, larguei o corpo. Acabou sendo boa, a sensação de tarde ordinária, encontro ordinário. Eu pude habitar o papel de amiga caminhando ao lado, uma forma de ouvir por perto sua respiração pigarrenta que amo como se fosse o único sopro saudável do mundo. Eu permaneci e isso foi diferente, triste, insuportável, mas possível. Como os mortos que ficam em qualquer lugar, até mesmo embaixo da terra. Morto não deseja e por isso mesmo permanece. Acho que seu desejo morreu e talvez o meu também, já que boa parte desse amor enorme que eu sentia e sinto por você, vinha e venha da minha alegria desmesurada em me sentir amada pelos meus próprios sonhos. Você encerrava em mim eu mesma e era uma loucura tudo, como eu sentia, como eu queria me vomitar e ensanguentar e explodir e rodopiar em mim até furar o chão como uma broca desgovernada e depois sair derrubando o mundo como o único pião que sabe a verdade e precisa chacoalhar seu entorno pra não enlouquecer sozinho. Era uma loucura tudo. Mas a morte, o fim, nós, andando calmos, ao lado um do outro, isso me permitiu estar de alguma forma sem querer habitar cada instante do estar e para isso me retirando o tempo todo. E isso pode ser viver mas viver é terrível. E antes, quando eu não sabia viver e me sentia amada, era ainda mais terrível. Daí que sobra essa sensação de uma solidão filha da puta mil vezes pois em nada dá pra ser com você. E tudo bem, não é você, nunca foi, mas escuta a maluquice: é que nada disso impede que eu sinta um amor absurdo por você."

tati bernardi - tem me encantado e me enchido de um querer descobri-la ainda mais.
"...você sonhava acordada um jeito de não sentir dor prendia o choro e aguava o bom do amor, prendia o choro e aguava o bom do amor"

e que a partir do brilho das estrelas dançantes, das ruas iluminadas por pequenas fendas de luz, dos carros que passam sem ter onde, das ondas de canções enigmáticas, dos beijos desconhecidos que apaziguam, dos sonhos perdidos e reencontrados, das lutas por causas impossíveis, das emoções do choro e do riso, da gargalhada inconstante, da paz que não vem, do medo que passa, sorrisos que voltam, chuvas que não impedem, bebidas remediáveis, palavras incertas que acabam no aconchego de braços sem donos, janelas abertas e portas fechadas, vidas entrelaçadas... o nosso sentir nunca pare porque eu não posso abrir mão dos desejos que tantas vezes reprimimos porque contestam ou não acordam. nós acordamos pra sempre e isto é tudo. deixamos a irrelevância de lado e deixa que falem, deixa que digam, vem pra cá o que é que tem? a gente tá fazendo tudo e todo esse sentir já é parte de nós.

mi em outros tempos: se trata de marcas, passado.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

...
- Então o que fomos nós?
...
...
...
- Uma verdade inventada.
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"eu te toco também"

andei lendo muito nos últimos dias. li livros interrompidos, blogs que não seguia, perfis que pouco me interessavam, sonhos que nunca havia tido. a leitura me basta enquanto atividade central de minha vida. leio mais porque me fecho e não tenho a intenção de me abrir enquanto não puder ler algo que venha de mim.

por isso escrevo aqui hoje.

tenho falado de liberdade e independência de maneira tão segura que me calam as palavras repentinas de intimidade. não sou capaz de arcar com o prejuízo daquilo que me vem vestido de surpresa. talvez por isso ignore. ou melhor, não sei o motivo de deixar isso passar por mim e me visto de silêncio, aquele que cobre o momento. mas sei que passa. assim como chega, deixo ir embora: some daqui e para bem longe, pois eu não quero correr o risco de cair em tentação e me despir novamente - por meio de palavras que eu nem sei.

"like a stone, please"

eu sei. não precisa me lembrar daquilo que venho sendo e que tem consolidado minha segurança e conforto. não que eu esteja em paz, nem que viva a guerra. nem céu, nem inferno, entendeu? eu quero a metade. deve ser essa minha natureza dupla. eu gosto dos dois. e quando se gosta de forma madura é fundamental abrir mão de um em benefício do outro.

por isso, hoje eu fiz uma escolha. escolhi quem me surpreende a cada gesto de solidariedade, a cada sorriso de verdade, a cada verdade inventada. Escolhi quem me dá forças pra seguir mesmo com medo, quem me faz acordar cedo mesmo com frio e mesmo com sono, quem prepara o café da manhã, o almoço e não janta. Quem tem saudades do passado e desejo de presente. quem pensa, de vez em quando no futuro e não se frustra por isso, mas sente receio. Atendi aquela voz de sono quando interrompida na madrugada, seus machucados pelo atrevimento do dia anterior e seu pensamento recolhido. Se eu pudesse voltar no tempo, ainda escolheria você. É você quem me dá cama e lençóis limpos no fim do dia, é você que abre o armário na busca do cobertor quando faz frio na madrugada, é você que acredita naquilo que cultiva em seu coração, ainda que ele tenha assumido uma postura fria inúmeras vezes. Optei por você não só porque te amo, mas porque a cada dia mais tenho conhecido seus defeitos e suas qualidades e isso me enche de confiança quando de ti me aproximo. Optei por você porque sei que assim não és capaz de te ferir. É você que me faz respirar, você que me acolhe com aquela felicidade sincera, é você que me ensinou a confiar: hoje é por mim e a mim que eu escolho.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Depende de como se vê, de onde se vê, do por que se vê.

Do por que se vê.

Resistência quando acompanhada do contexto no qual percebo agora é aquilo que chamo de cegueira. É controlada, anestesiada, escolhida. Por vezes pretendeu-se usá-la como máscara e hoje é a válvula de escape para a solidão. De manhã é pequena como teu sentir, a tarde desperta como teu querer e a noite, intensa como teu sonho de amantes. É uma forma de vencer as tuas forças e as forças daqueles outros. É se manter em pé diante dos tombos recorrentes e dos falsos moralismos. É pretender ser além de ti. Quando se vive por aventuras não há que resistir porque cada dia é outra forma de envolvimento. Não há cordões, nem linhas muito menos pretensões. É a procura da viagem e de ser estranho em todos os corpos, ser de fora em todas as horas, ser qualquer um onde for. É esquecer a busca em troca de sanidade. E pertencer a tudo ao mesmo tempo sem falsas ressalvas, sem vínculo, sem chão. É a presença do passado através da negação daquilo que fomos e daquilo que somos. Viver além das aparências e desapontar por isso torna o credo um pouco menos falho. O que há de ser tamanha resistência quando não se almeja? No momento da entrega palavras vêm assim como partem – corações cansados - e ninguém há de saber, mas é por isso que inventaram esse tal do resistir. Ele apazigua as dores de ouvido, devolve o amanhecer que ofusca as confissões da madrugada e em forma de máscara rotineira se guarda para o próximo instante em que a ignorância tomará conta das coisas para que a ti não reste o tão temido sofrer pelas sensações que não tens porque pensas demasiado.