segunda-feira, 28 de março de 2011

Essa é a versão editada daquela carta que te escrevi e rasguei. É uma carta de despedida. Porque diante de tantas luas sem o som das nossas vozes transpassadas, não vejo porque seguir na tua espera. Eu digo em alto e bom tom: vai pela sombra. Leva contigo os nossos dias de brisa, aconchego, sonos perdidos, coleção de sorrisos, olhos molhados. Leva também a tua mala que terminei de arrumar logo após você me deixar com olhar de volta. Atrás do armário, deixei teus dois sapatos novos, vista-os e se retire sem pestanejar.

Eu não esqueço que fui eu quem pediu pra você ir. Mas também nunca encontrei motivos pra te pedir pra ficar. E você tampouco em mim. Fomos covardes porque não acreditamos que poderíamos durar na corrida dos nossos dias por liberdade. Covardes porém jovens. Fomos jovens demais, impulsivos demais, orgulhosos demais. Nosso tempo passou.

Não acredito que você irá encontrar pelas ruas, mãos como as minhas, nem olhos travessos, nem sonhos ilesos...como também são os meus.

De presente, deixo-te a partida. E parto também. Em direção oposta. Por fim. Por um fim. Pelo nosso fim. Não estou mais aqui.

quarta-feira, 23 de março de 2011

teus olhos vestidos de tentação são mera fantasia vampiresca
ah, quanta maldade
teus lábios calados, distantes do beijo
desenham saudade

teu corpo sonoro velado de medo
sorri para dentro
afasta o premeditado
corrói o derradeiro
tuas mãos, quantas curas trazem
e depois envenenam meu cais

seja para mim essa noite
causa, revelação, memória
seja um minuto que seja
mas não vá embora tão cedo

não nos deixe desamparados
cometa latrocidades
te engana
vem cheio de dó
que te toco em mi
nota suave composta por tristeza
proeza, leveza,
faz desse tão longe
um atalho para a nossa ritmia

apalpa meu coração com teu amanhecer partido
mas chega, chega de me partir
hoje eu só sou,
sou só
reduzida a pó, destruição, sujeira e sal
meus pés não dançam mais
e a trilha deixou de ser aventura
para ser nada

tão gelada, mulher de lata
e já não choro mais
porque até as minhas lágrimas se foram contigo
por ti
me olha novamente e faz adormecer
essa frieza constante

vem!
já é tão tarde sem ti

domingo, 13 de março de 2011

Eu me protejo no indecifrável. Alguns podem achar que é covardia. Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu venho aqui pra falar de mim. E marco sim, a primeira pessoa muito claramente quando muitos escolhem se esconder. Só que novamente necessito me lembrar, eu estou aqui pra falar de mim. Dessa minha euforia com o início de uma nova fase que promete novos começos e muitas histórias. Pelo menos algo que não me deixou, que ainda insiste em me tomar para si. Um lugar em que eu creio, um lugar eu que eu posso ser. Já faz tanto tempo...

Permaneço olhos e coração fechados. Batidas e piscares que palpitam , pelo incomum, pelo mistério, numa luta interminável em busca da descoberta.
Pelo som que não pára, o beijo incontido, o sonho não realizado...
As mãos que tremem enquanto se distanciam, os corpos que dançam motivados pela caricatura do (i)realizável, as sombras que desaparecem em cada nascer de sol.
Eu quero a maldita vontade de sair sem rumo. O palpitar da insegurança. O náufrago dos desalmados. Os palpites dos desavisados. A miséria dos abençoados.

Vontade de que permaneça. De que não haja cura pra toda essa ausência,
Combustível insolente e responsável pela minha vontade de não desistir.

Já faz tanto tempo...e eu ainda estou aqui.