domingo, 26 de junho de 2011

Incendiária

Escrevo na madeira que é pra eu botar fogo quando terminar a construção da casa.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

"Qual é o contrário do amor?" - perguntou-se a personagem embebida pela falta da presença da outra. "O contrário do amor é a perplexidade", o estado do choque, da náusea, a falta de apetite, a dor no centro do corpo, o frio. Todas as características que ela vinha demonstrando após o trauma da partida respondiam física e emocionalmente o que nos tornamos diante do abandono. Perder-se do outro é, na maioria das vezes, logo no início, perder-se de si. Tentar entender o por que nos perdemos de nós diante da perda do outro, foi sempre um mistério para mim. Tentei, por diversas vezes, encontrar respostas para esse apagamento de identidade. Parece que sobramos a mescla do que fomos quando estávamos junto de alguém. Como pode dois corpos se tornarem um só? É uma questão que a física resolve: "dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço". Mas a ciência tem errado tanto. Isso não me basta.

domingo, 19 de junho de 2011

Indetermináveis

não há artigo no mundo que os detenha

sintaticamente incompletos

não há sentido no mundo que os contemple

sentimentalmente complexos



...


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Deixa eu fazer parte do teu lar. Quero ver o mesmo mundo da janela do quarto ao lado. Acender a luz amarelada da tua sacada. Cozinhar com fósforos, sentir a transparência da falta de pano da tua sala. Ouvir as tuas músicas que eu sempre tive preguiça de baixar. Passar o dia inteiro no sofá entre intervalos de consciência e crises de linguagem, poesia hermética, sonho congelado, sono sucumbido, sorriso alado. Deixa eu te ajudar a esfregar o chão, tomar a água santa, separar o lixo e recolher a mesa com cadeiras de plástico. Deixa eu cultivar salsa, cebolinha, boldo e tantas outras plantas mais que trazem cura, que fazem bem. Quero ouvir a tua voz de perto, que os nossos dias não se resumam em 4 horas e algumas falas virtuais. Isso não é pra ser um casamento, é apenas um pedido comum de quem vislumbra mais do que a nossa condição presente. Quero um lugar pra gente! É pedir demais?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Entre/vistas

eu sou um pé frio
no assoalho claro
por onde vago
intermitente
passo...

não vejo mais a mim
serena, doce
intransitavelmente
sou estopim

conto um conto
leio em desaforo
metáforas e laudos
respiro, não paro
imanente
sou, em resumo,
disparo

crio dor
sorrio em cura
placidamente
se inspiro livros, teorias
é porque já fui rua

mas volto a pé
transito a mente
se travo, distraio
se distraio entravo

sem mais
sem meias
semeia?

...