segunda-feira, 11 de julho de 2011

É no verso que eu me solto
reboliço constante
a tinta da caneta tilinta trilha
os passos que na vida
eu tenho deixado pra trás
e a mão cansada de tanto
segurar sopros dos outros
resolve falar:
- Posso soltar as tantas palavras
que correm soltas dentro de minhas
veias, mas permanecem presas
diante da tua retina?
Me acalma.
Será que tuas falas podem vir
a me servir um dia?
eu que vestida sou Maria
desnuda Sophia
apaixonada sou Laura
calada: prazer, me chama Sara.
Sou tantas, sou várias
e tantas me são
desconheço solidão
Só, que quando chega a imensidão,
quando vejo além do que meus oito
olhos nublados permitem,
torno-me pequena,
sozinha, cansada, frágil
solene,
fria.
Viro a página...
nem no verso eu me encontro.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Garota invertida.
Trocou as letras para ter controle total sobre as palavras.
E as palavras choviam feito tempestade de inverno em cima dela que não quis se proteger.
Seguia trocando.
Dia por noite.
Rua por casa.
Escrita por leitura.
Imagem por solidão.
Trocou até de lar.
Sobreviveu a tempestade de polifonias.
Acordou faminta.
Alimentou-se de lembranças.
Sorriu.
Queria desistir de trocar presença por lembranças.
Mas trocava.
E a ausência lhe tocava feito pedra de gelo.
O arrepio do vazio passou tão perto de si que a fez estremecer.
Como nas vezes que ela via abrir a janela de cortinas laranjas.
Como naquele dia.
Como nunca mais vai voltar.
Trocou a música.
Mas os dedos que sentia ainda eram os mesmos.
O cheiro e a força,
O sorriso e a maldade,
A ternura e a rispidez.
Trocou os sentidos,
Sem nada ter tido.
A soma de todas as coisas que não tiveram força suficiente pra sobreviver com ela.
O adeus e a própria sorte.