quarta-feira, 28 de setembro de 2011

"Escrever pode ser solidão" - disse-me nas entrelinhas de sua prosa. Eu, ciente e distante desse ato, me perguntei se escrever era uma escolha e descobri sobre a imersão no mundo dos discursos quando não há mais esperança. Talvez fosse um pouco isso. As pessoas desistem e depois elas leem. Ler pode sustentá-las por algum tempo, por uma pequena porção de tempo. Porção que é bastante desproporcional se comparada com as desistências constantes. "Então é isso, você veio até aqui pra desistir agora?" - Pensei novamente diante dos fatos. Mas precisava renová-los. E isso significava, por um pequeno instante, a não-desistência.
A grande dor daqueles que escrevem nada se compara a angústia daqueles que só leem. Um acúmulo sempre pronto para entrar em atividade de ebulição, explosão latente que nunca ocorre. E eu nunca sei o que fazer com tudo isso. Parece que tudo já passou na minha vida e eu tenho vontade de simplesmente sentar e ler uma história, mas o que é ler uma história para aqueles que guardam dentro de si os caminhos revoltos do mundo? Paro novamente para refletir sobre essa ação e sou tomada por uma imensa vontade de apagar a folha, porque vestida de branco ela tem em si também todas as dores do mundo. Dores assim não sangram. E todos aqueles lençóis brancos transformados hoje em bandeiras vermelhas traduzem a dor dos que foram além de atos como ler e escrever. A grande luta se materializa fora daqui, apesar de eu enxergá-la por vezes metalinguisticamente.

sábado, 17 de setembro de 2011

Melhor abandonada

Abandono-me aos tantos pra que no próximo retorno eu possa me dispensar mais um pouquinho.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

ou seja

preciso
dormir
um
pouco
que seja

pra
acabar
com
essa
Dor
que não me mantém
ilesa

ou seja
preciso dormir
ou
acabar com a dor
?

que seja.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Desabafo

Após voltar o coração da instituição, foi a vez do meu coração parar

Perco o caráter denunciativo dessa proposição em detrimento de uma diplomacia que nos faz calar, “pelo bem do movimento” gritam uns, quando em contrapartida, me vejo aqui escrevendo e, portanto não paro. Perdi no meio do caminho do parágrafo anterior o caráter denunciativo e mesmo assim acabei de denunciar. O que tenho visto ao meu redor não é só um baile de máscaras em que vence o que produz a melhor fantasia, seja ela com conteúdo histórico ou esteticamente mais encantadora, seja com apropriação de discursos e utopias defendidas na singularidade transparecendo a ilusão de atingir um coletivo que morreu no meio do caminho, diante do preparo das falas. Parece contraditório, mas é isso mesmo, vocês já nos perderam quando se juntaram. Alguns inconscientemente, outros defendendo interesses repudiados tantas vezes pelas próprias bocas. Mas tudo bem, “sou responsável por aquilo que digo, não pelo que entendem do que eu digo” e sendo assim, nós todos nos escondemos atrás do protecionismo paternalista: uma reverência aos paradoxos.

O revoltante é o caráter assumido por aqueles que tomam a linguagem pra si e usam dela para se apropriar das vidas, grande doença do mundo. Da mesma maneira que fizeram os colonizadores quando trouxeram toda a violência linguística, moral, física, fazem agora os donos dos discursos contemporâneos. O extremismo tomado com/por paixão tem de certo modo encarado a vida social crítica não como utopia, mas como revolução pessoal. Se hoje não temos um inimigo estável, se hoje lutamos sem saber exatamente quem estamos combatendo, resta a mim uma só proposição: da maneira como estamos seguindo, parece que seguimos contra nós mesmos.

Chamam pra luta e fecham os olhos e os ouvidos para os próprios soldados. Ainda pior, fingem ouvir, arriscam salva de palmas e depois seguem suas vidas corroborando para a invisiblidade do outro, excluem propagando o discurso da abertura e permanência. E o que mais me toca é que a linguagem me toca e diante dela não me canso.

E de tudo isso, o que restou?
O poder nas mãos dos mesmos. Mudam as caras, ficam os vícios.