sábado, 29 de outubro de 2011

os três últimos dias de outubro

outubro nunca foi um mês com tanta importância pra mim. e veja só, outubro passado passou cortando, enquanto outubro presente podia perdurar até os últimos dias do ano. querer estender outubro, não é questão de desejo, mas de extrema necessidade. parece que dessa vez, outubro veio pra levar embora os últimos fantasmas do passado. trouxe com ele os ventos necessários pra expulsar as cinzas que ainda insistiam em permanecer na sala, no quarto e na memória. bendito mês, ou melhor, bendito seja o agora, sem notas, nem calendários, nem datas, nem prazos. quero viver esses últimos dias como um intenso presente e se for pra relembrar, desejo trazer pra mim as memórias dos dias da infância, em que outubro nada mais era do que o mês das crianças, sorrindo aflitas, feito algumas que vi correr morro acima com balões nas mãos, onde a única preocupação se consolidava em não deixar o outro estourar o seu sonho de voar, sorrindo e vivendo a inocência. e picolés, e amarelinhas, e esconde-esconde, imensa ternura de uma vida passada. eu nunca tive pretensão alguma em desviver, mas deixa eu confessar um segredo, por hoje, somente hoje, enquanto o vento entra, o sangue circula, e a música toca, eu quis desvendar nosso intenso presente. conspira, vai, faz meu pranto respirar teu ar. e a distância só me revela o que eu já sabia: nossas fronteiras se desfizeram desde o primeiro encontro. proximidade não tem nada a ver com corpo. viajo nas linhas do tempo que tanto nego pra poder estar, ao menos em mente, perto. e parece nunca ter fim, uma estrada que se faz de agora. somos responsáveis pelos nossos entraves, então vem, diz pra mim o que teus olhos são tão bons em revelar.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

"- Eu espero, de coração, que ela vá mais. Que dias mais sejam incomuns. Que ambas não tenham medo de se tocar quando a vontade vier. E acima de tudo, meu bem, eu espero que você volte a sentir."

- Pri Fierro: tão perto, mas tão distante, você não precisava ir. Longe da minha visão, mas dentro do meu coração.

sábado, 15 de outubro de 2011

E novamente escreveu sem vontade de postar. Eu tenho mil rascunhos dentro de mim. Isso tem me confundido absurdamente.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

o verbo da vez

Narcisar-se, eis o verbo da vez.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

um vislumbre de morte

Têm dias (ou noites) que a mesma terra que te trouxe ao mundo, insiste sorrateira em te levar de volta. Uma energia, feito imã, vai exercendo sobre o teu corpo, uma força tamanha, sem espaço pra salvação. Ou é preciso cair pra se salvar? Tive medo, diante desses vislumbres, senti não ter controle sobre o meu corpo e quis voar. Nessa madrugada, fará um ano do meu segundo vislumbre de morte, meu primeiro voluntário. Um ano da noite em que as árvores me chamavam enquanto risadas serviam de sonoridade para o meu salto. Mas se aqui escrevo agora, é porque me faltou coragem. E a tão ousada covardia que adiou a minha ida, trouxe de volta os meus olhos perdidos na imensidão do nada que tomava conta do meu passado recente. É pra lua que o meu hoje se entrega. Ontem ela me olhou de longe e foi se aproximando aos poucos derrubando o muro instaurado entre o céu e a terra. Tocou primeiro meus olhos, depois meu rosto como um todo. Não tive medo de me afundar nos seus poços de mistério. Apenas estive entregue. Como há muito não havia estado, eu vivi a ausência do nada por aqueles instantes. Após um ano, fui dominada por um vislumbre de vida. Sim, me deu vontade de ficar. Ficar pra viver as reticências (des)cobertas. Quando naquela curva, o carro me entregou ao chão, desejei, enquanto passava lentamente o filme preto e branco da minha curta vida, não ter partido. E te visito agora em memória para que nunca esqueças do dia em que me devolveste a vida, tirando-me dela.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

al horria

Re-significa.
Por que eu tenho escrito tão pouco?
E visto meu peito guardar todas as angústias pra si como egoísta que é.
E como egoísta que sou, não divido a minha dor com ninguém.
Ser assim arde. E arder é a maneira que eu encontrei de te manter longe de mim.
Tu e todas as tuas (re)voltas em vão.
Volúvel que fomos.
Perante o abismo, diante da leveza do voo, eu fui.
Flutuei durante quatro andares.
E a queda, que era pra ser livre, passou a ser resgate.
O mais impactante é que depois dali não tem mais nada.
O nada transparente da volúpia roubada.
Além de todos os rabiscos, rascunhos rasgados, risos e rastros,
Foi de passagem também a lucidez, o estado sensato da loucura,
o instante da calma, a distante realização da f e l i c i d a d e.
Quero cortar os meus dedos na tentativa de diminuir essa falha.
Porque tenho insistido tanto nessa falha
e deixado de ser na tentativa de tapar buracos que nem mesmo
consigo identificar onde estão...
Ouço vozes, rememoro em desespero, uma escrita que grita
para liberta-se de mim e assim libertar-se de si.
A l f o r r i a. Quando vou me livrar dessas algemas?
Sinto falta de escrever sem fugir de algo, sem a necessidade constante
de apagar as palavras que saem para demonstrar sentimentos duais.
Há algum tempo escrevi: chega, eu não vou mais sentir.
Talvez eu quisesse dizer que não seguiria mais sem ti e quando resolvi
por decretar a falência das minhas táticas de salvamento desse sentir,
O prédio já tinha sido impludido e nem pular do sétimo andar
da janela do teu quarto eu pude mais.
Eu sou o atraso.
Atraso-me pra esquecer que um dia já fui pontual e esperei em vão
por aquele que nunca me apanhou.