É muita dor acumulada.
Ao passo que a garganta inflama,
O dia passa
O tempo fecha
É muita dor
O professor tem professado professias
Mas não divide o mar em dois
Não atravessa o deserto em 40 dias
Tem asas de cera
E como não é estrela, chora
E mesmo sendo, choraria
Estrelas de cinco pontas
E muitos sentidos
Sente a criança que sonha
O adulto que bate
A avó que cria
Sente sofre sofre sofre sozinho
E chora
Debaixo de chuva,
Diante da presa
Durante os cem mil quilômetros de pés cansados
Perante a sociedade civil
Embaixo dos escudos dos PMs
5 mil professores choram
Ouvimos o caos
Somos calados
Pelo silêncio
Dos outros 100 mil
E por falar em números
Cidades avulsas
De almas frias
Cultuando os seus egos infinitos
Que inflam inflam inflam solitários
E choram
E os discursos choram
e o faminto e o soldado e o poeta
e o escravo o menor abandonado
o guru o pirata o criado mudo
E caladas
elas também choram
e a artista e a adolescente grávida
e a mulher do tempo a cigana
as milhões de formiguinhas aflitas
todas choram
E o mundo
cenário de enchente de lágrimas
continua mudo
e não muda
porque o trabalha-dor
está ocupado demais
trabalhando a sua dor
A d o e c eu.