sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

domingo, 25 de dezembro de 2011

Noite de vésperas

- Vinde a mim as criancinhas.

E repleta de crianças eu era mais feliz (ou menos cética).

Escrevo hoje para reverenciar o eco que clama por uma voz inexistente.

- Onde estás que não aqui?

Não te encontro se não me esforço (com dor) para revirar memórias e cansaços.
Já faz algum tempo, parei de pedir pra ti e comecei a perguntar por ti.
E nesse esforço pendente por repostas avulsas, lembro-me bem das palavas recentes que mais me marcaram: "A memória é aquilo que fica depois que o esquecimento faz o seu trabalho".
Como lido com tantas lembranças relidas, empecilhos, vírgulas em meu caminho.
Precisava transformar toda essa agonia em água e sal, mas o tempo se encarregou de secar a fonte do meu poço de desabafos e nem lágrimas me são possíveis.
Autuar em degradação papeis, tintas e pedaços.
Para mim, não profetizaram flores e todas essas pessoas cantando em adoração a algo que já partiu só enfatizam a minha impotência diante dos mortos.
Acreditar na não existência deles, não significa estar liberta dos fantasmas que me assombram.
Dia após dia. Ano após ano. Lamúrias e sensação de asfixia perante a inexatidão desse mundo. Pareço estar me acostumando a colocar minhas memórias pra dormir ao lado de meu corpo frio coberto de solitude, todas as noites. E toda aquela história de petrificação a minha vida tem condenado. Talvez seja essa a profecia. Não ouço mais os gritos das crianças desesperadas, não temo mais o vento da volta dos mortos, não sei se quero ser esse soldadinho de chumbo retirado das histórias para enfeitar pinheirinhos de vésperas. Recordo, ainda, a angústia feliz daquilo que antecede. Mas tenho sido vencida pela antecedência, o procrastinado fim daqueles que não se realizam. E no entanto, continuo me antecedendo. E antecedo aqui este começo que nunca cede e que nunca cedo. Por isso escrevo e por isso vivo cada anteceder e nem mesmo acendo porque não mudo e porque não vejo.

Eis meu consolar: "Mas quem sente muito, cala; quem quer dizer quanto sente fica sem alma nem fala, fica só inteiramente".

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

poematizar

Não guarde o poema para si.
O poema nasceu para ser falado...
...pra pular de boca em boca
e unir as línguas...
Os poemas deveriam estar nas bocas das pessoas
e elas poderiam comê-los
engolir palavra por palavra
letra por letra
degustar som por som
até ele passar pelo tubo digestivo
e GRITAR sentido!
O poema encontra angústia quando passeia pelo corpo
e enlaça seus anseios as mãos de sua amada
despertando vontade e exorcizando paixões...
Eu só queria dizer o quanto ouvir poemas
une as distinções.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Por minhas mãos

Me fizeste, como todos os românticos incompreendidos (e carentes de cama e bons tons) um vaso de flores que atiraste pela janela no terceiro mês. Hoje, elas vivem a tilintar cores diversas no jardim subterrâneo das minhas lembranças. E ainda que não floresçam em vida, contentes estão por germinar cadáveres e desfrutarem da esperançosa possibilidade de virem a renascer um dia. E me pergunto diante de todas essas interrupções tardias, como tens cuidado do teu jardim sempre tão infértil e carente de amores reais. Porque ainda que longe, eu sei e sinto, tua busca por algo impossível de se realizar em vida sem cair no convencionalismo monótono da realidade. E a minha dúvida que subverte a lógica de todas as canções (algo que tiveste dom em fazer) talvez seja a única resposta pronta para responder a tua busca e a minha dor. Quando uma vez falei sobre promessas de amor só se realizarem na impossibilidade era pra me consolar do fato de que temos sido impossíveis um para o outro. E também para não temer a falta de possibilidades de outros universos, outras canções, outros toques e cheiros. Porque assim como queres te contentar com o tradicionalismo das relações, eu estou no processo às avessas. Procuro as mais diversas possibilidades pra me livrar da única que me fez querer um dia parar de buscar, em troca de travesseiros brancos com um só vestígio de ar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011



Pra ver se escrevo

Pra ver se escrevo
já tentei chocolate e café
acelerar o metabolismo
pra ver se sai algumas linhas
mas nada como
ter você perto
e num instante



ter você longe
pra palavra vir
pro tom, pra nós
pra emergir
a tão esperada
emergência
da poesia
satis-feita

sábado, 3 de dezembro de 2011

- Fale mais sobre essa dor

Mas o que faz essa dor permanecer tão forte. E essa angústia e essa tristeza e essa falta de perspectiva, essa oscilação de mundos, esse marejar de sal nos olhos, esses sonhos dispersos, essa dúvida permanente.
Essa volta pra casa sempre esperando encontrar, essa espera cheia de reticência...
Será que um dia vamos encontrar? O poeta sabia dessa dor. Escreveu sobre a asfixia e encenou para um mundo condicionado a ter asma.
Um turbilhão de sentimentos tapados com fones de ouvido. Uma multidão de pessoas silenciadas pela perda.
Será que um dia vamos parar de esperar?