domingo, 20 de maio de 2012

Diário de canto: 26/03/2012


Parece mesmo que eu ando tendo tempo de sofrer. Arrastando os dias pra não me livrar das últimas lembranças felizes de nossas vidas. Parece mesmo que o tempo não passou. Todas as noites em que o som da chuva bate na janela penso no último dia que estivemos emblemáticos, sorridentes, tentando se lembrar de alguma dose boa de nós. Eu nunca mais chorei a tua falta. Fico sem reação quando leio teu nome na tela. Ouço os meus dedos tocarem de leve as teclas interrompidos por uma sensação fragmentada de amor. “Amor sem palavras. Ou. Palavras de amor sem amor”. Sinceramente, eu não sei. Parece mesmo isso aqui um beco. Corri tanto que ultrapassei os sentimentos, mas sei “sei que respiro” nessa corrida sem lógica. Tentei por todas as vezes não abandonar o lado racional da vida, mas parece que tu estiveste a voltar nos momentos em que estive mais perto de compreender a ciência, só pra me deslocar do conforto que é não sentir. Tu fode com a minha mente. Metodologias, objetivos, dados e tudo isso pra que? Chegar ao final e entender o pedaço ínfimo de sorrateira incompletude que somos? Compreender cada vez mais que fomos nada diante de tudo. “Oh, pedaço de mim, oh metade afastada de mim”. De todos os julgamentos, esse tem sido o mais difícil de enfrentar. Talvez só seja o momento. Eu não quero mais enfrentar a oscilação, os desencontros, ou esse sentimento de que alguma coisa tem que morrer em mim para que outra nasça. Eu só queria não ter mais que rejeitar a ideia de tua volta. Então, não volte nunca mais. Permaneça quieto, permaneça longe. Enquanto eu caminho em direção ao nada que construí para os meus dias. Desconfortavelmente. Sem ti. E te peço, por favor, não me ligue mais quando a noite cair por cima dos teus ombros. Não me ligue mais quando sentires que sou a única que pode afagar tuas dores. Não me procure mais quando surgir um sorriso em meu rosto. Não me chame ao anoitecer, não me acorde da vida que inventei pra mim. Demorou muito tempo pra que eu conseguisse compor todas essas notas libertas de dor. Demorou muito para que os pássaros me acordassem da tua ausência. Então, imploro, não encoste em mim com as tuas mãos frias, teus olhos carentes, tuas rugas, teus vícios, tuas inconstâncias. Me deixa dormir em paz; já faz tempo demais, o que não faz é sentido. Sem te ter tido eu fui menos minha. Estive, por todo esse tempo, muito mais ao teu lado. E mesmo dizendo adeus diversas vezes, voltei porque acreditei demais no que foi vago.

i l u s ã o

domingo, 13 de maio de 2012

"O que estamos buscando hoje? De onde vem toda essa saudade?"

Pina

terça-feira, 1 de maio de 2012

Fraude

Inventei uma dor pra adiar meu compromisso. E não é que meu corpo acreditou! Se espalhou rapidinho por toda a extensão do meu pescoço e dessa vez, não havia pelos que protegesse as partes mais sensíveis. De cor leve e rosada passou a ser cinza, amarelo, pera com um tom de vermelho envelhecido. E a música de fundo não parecia ser mais alta do que as batidas aqui de dentro. Todas as concentrações de pensamentos em um só ponto, o ponto chave, e pronto, estourou: eu acho mesmo que eu sou uma fraude; até onde eu posso fingir sentir o que sinto, sonhar o que sonho, escrever. 

Inventei. Inventei um compromisso pra me adiar. E não é que quando vi já estava dentro demais pra desistir agora! Os ponteiros do relógio e as datas do calendário, todos também inventados, convencem nossa estadia de que não há tempo, é tarde, é tarde, é tarde, é tarde; já diria o corredor dos sonhos. Tempo? Que tempo é esse capaz de mandar em quem eu sou? "Tu só faz isso pra mudar a si mesma, não significa que irá mudar as coisas ao teu redor". Não diretamente, contemplei o raciocínio. Se fosse dessa forma será que seria menos perigos de lágrimas, cores em metamorfose na própria garganta, menos sulcos. Sulcos, sulcos, sulcos de dor.

É essa mania atual de querer adiar. Adiar e adiar e adiar. Quando eu passar a olhar o tempo de frente, sem esquecer das ancoragens, das rugas, das saudades, quem sabe eu possa adiar essa prática de adiar. A começar por essa escrita que chegou pra adiar a outra. Tenho andado em círculos e isso pode ser por esse medo enorme de olhar o tempo de frente. Eu deveria parar de pensar no tempo e tentar fazê-lo. 

Vou inventar um calendário pra mim.