sexta-feira, 25 de abril de 2014

Ente de relações: do que tenho visto por aí

O que falta a todos nós hoje: nos colocarmos no lugar do outro e voltar ao nosso lugar entendendo a aprendizagem que a ação comprometida de ver o outro, de contemplá-lo, nos possibilita. Vejo cada vez mais ódio nas palavras endereçadas ao outro, um egoísmo que tem sufocado a solidariedade. Todos os dias, é uma luta, uma guerra carregada de palavras.

"Devo adotar o horizonte vital concreto desse indivíduo tal como ele o vivencia; faltará, nesse horizonte, toda uma série de elementos que me são acessíveis a partir do meu lugar; assim, aquele que sofre não vivencia a plenitude da sua expressividade externa, ele só vivencia parcialmente e ainda por cima na linguagem de suas autossensações internas: ele não vê a tensão sofrida dos seus músculos, toda pose plasticamente acabada do seu corpo, a expressão de sofrimento do seu rosto, não vê o céu azul contra o qual se destaca para mim sua sofrida imagem externa". 

[...]

"Eu devo entrar em empatia com esse outro indivíduo, ver axiológicamente (do meu ponto de vista) o mundo de dentro dele tal qual ele o vê, colocar-me no lugar dele e depois de ter retornado ao meu lugar, completar o horizonte dele como o excedente de visão que desse meu lugar se descortina fora dele, convertê-lo, criar para ele um ambiente concludente a partir desse excedente da minha visão, do meu conhecimento, da minha vontade, do meu sentimento."

Mikhail Bakhtin