quarta-feira, 2 de julho de 2014

Vigia e pune

Antes era um total sobre algo singular. Hoje, ainda que seja isso, diluiu-se tudo feito pólen. Como identificar o que te pune se os olhos estão embaçados pelo aroma desse café forte?
Tem tanto fluxo fazendo com que tudo corra e ocorra, que fica muito mais difícil identificar de onde vem a punição.
Sou eu, você, o mundo todo, a nossa formação cristã?
Que diabos se instalou nesse relato, que o som passa, de um lado para o outro sem que eu identifique as vozes que o fazem entoar?
Sonhei que todas as vozes se confluíam em uma nuvem branca de estruturas de papel. 
Todas as paredes coloridas tinham um sentido em nossa mente, mas a mesma onda de ordem fazia com que todas essas cores não passassem de esboços. 
Um amigo me perguntou:
- Como fazer chegar? Como entoar as diferenças sem que estas destruam umas as outras? Você pode me dizer?
- ...

quarta-feira, 7 de maio de 2014

ANGÚSTIA


Página em branco. Sempre que vejo, sempre que vejo uma mãe sozinha chorando aos prantos, penso em sua dor. Penso o tempo inteiro em sua dor. Será por causa do leite dos filhos? Do coração partido? Das mil e uma noites mal dormidas? O que houve, minha mãe. Doce parte de mim. Saibas que é por ti que continuo ainda. Só por ti. Toda a vez que te vejo triste é porque sei que és uma mulher de palavra. Não quero te ver cair pelos cantos da casa. Não quero te ver partir com sua dor profunda. Eu sinto teu peito debulhado sobre o meu. Nunca se esqueça disso, que todas as vezes que te vi partir, um pouco a cada dia, se algo eu fiz, foi por ti. Até essa folha seca que escrevo com os olhos molhados de ânsia e angústia é por ti. Tuas mãos me atam, mulher. Seja cada dia mais porque não sei o que posso conseguir sem saber que és; Em mim, eu vejo todas as tuas vidas. De menina, de jovem e mulher. Tu és minha única forma de vida.  


Pintado por Alfaro Siqueiros David. Sobre Vinilo eucatex

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Ente de relações: do que tenho visto por aí

O que falta a todos nós hoje: nos colocarmos no lugar do outro e voltar ao nosso lugar entendendo a aprendizagem que a ação comprometida de ver o outro, de contemplá-lo, nos possibilita. Vejo cada vez mais ódio nas palavras endereçadas ao outro, um egoísmo que tem sufocado a solidariedade. Todos os dias, é uma luta, uma guerra carregada de palavras.

"Devo adotar o horizonte vital concreto desse indivíduo tal como ele o vivencia; faltará, nesse horizonte, toda uma série de elementos que me são acessíveis a partir do meu lugar; assim, aquele que sofre não vivencia a plenitude da sua expressividade externa, ele só vivencia parcialmente e ainda por cima na linguagem de suas autossensações internas: ele não vê a tensão sofrida dos seus músculos, toda pose plasticamente acabada do seu corpo, a expressão de sofrimento do seu rosto, não vê o céu azul contra o qual se destaca para mim sua sofrida imagem externa". 

[...]

"Eu devo entrar em empatia com esse outro indivíduo, ver axiológicamente (do meu ponto de vista) o mundo de dentro dele tal qual ele o vê, colocar-me no lugar dele e depois de ter retornado ao meu lugar, completar o horizonte dele como o excedente de visão que desse meu lugar se descortina fora dele, convertê-lo, criar para ele um ambiente concludente a partir desse excedente da minha visão, do meu conhecimento, da minha vontade, do meu sentimento."

Mikhail Bakhtin

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Determinar

"Mas ele era tão determinista! E me constituiu de um certo modo que minha escrita me condena. Quero voltar a fluir na história de minha própria linguagem que, eu sei, de "minha" não tem nada. Como era justo escrever sem determinar."