quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Atravessar a ponte

Acalma-me o coração
Eu só precisava das mãos dadas
feito correntes de ferro
Daquelas que fortalecem
o corpo dos que desafiam as leis

Além do que
nunca pedi que ficasse
apenas segui firme
o impulso imprudente dos meus músculos

e a cada ímpeto de desistência
sentia o maior de todos
bater feito o sonho que nasce
da terra fértil

Eu só queria que você não precisasse
saber das mazelas todas que sofro
saber que todos os dias
me despeço de mim
para poder te ver sorrir

amar deve ser um pouco isso
como atravessar a ponte
a 80 km por hora
e escolher agarrar forte teu corpo
ao invés de seguir minha mente suicida



quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Felicidade doce e amarga


Eu tenho a sensação de a felicidade estar o tempo inteiro escorrendo entre as minhas pernas (ou de ser isso que escorre).
Se há algum tempo dissecassem meu corpo, iriam encontrar órgãos ocos, secos, mortos.
Eles poderiam até ser a causa extrema de minha falência múltipla.

- Morreu de que?
- De infelicidade. Quando abriram seu corpo, os órgãos estavam secos.

O que será, que será que dá dentro da gente que não devia...
Não sei se devia ou não, só sei que sinto. 
Eu sinto como se meu corpo inteiro estivesse sendo preenchido, aos poucos, por uma massa uniforme e viva.

Sabe quando você quebra 3 ovos, mistura com leite, farinho de trigo, um pouco de óleo, fermento em pó
e o milagre de transformar algo separado em uma coisa única, forte, alimento para nossos dias...

Fazia tempo que eu não fazia planos, eles pareciam estar todos desenhados.

"Acordo às 9h da manhã, escrevo, almoço, escrevo, tomo um café, escrevo e quando vinha a dificuldade de articular as ideias no papel sem graça do corpo do word, eu lia um pouco. Conselho dela.

A minha vida estava toda escrita sem espaço para as entrelinhas,
e talvez essa sensação de voltar a improvisar, voltar a sentir o frio das coisas por fazer, voltar a caminhar
sem chão, mas respirando e sentindo cheiros e gostos e sorrisos...

É, tenho de concordar, a felicidade só é verdadeira quando compartilhada.

Você mal chegou em mim e já me faz dar esses pulos de emoção incontida E COMO ISSO ME FAZIA FALTA!
Tem certeza que você nao pode me ouvir daí de dentro?
Olha aqui, isso que eu escrevo é pra ti, presença da ausência. Fazia tempo que algo não me motivava a criar: você tem sido minha válvula, mas eu não queria te trazer para cá pra que fora isso "a válvula de escape", "o ponto de fuga"
mensageiro da minha paz. 
Sou egoísta, de qualquer modo. E te amo, com todas as minhas forças, mesmo sabendo que você
tem que partir. Essa lágrima quente que escorre em meu rosto mostra que eu te quero, mesmo não te querendo.
O doce amor das contradições. 

Falo que não, mas sim.
Digo que você deve partir, mas não quero que o faças.
Quero sonhar com você, meu pedaço de vida.
Precisava colocar para fora toda essa coisa chamada amor que tenho sentido desde as pontas do pé até meu último fio de cabelo.
Um arrepio percorre meu corpo enquanto sinto-te ainda mais.

- O que você faria se fosse daqui há cinco anos?
- Eu projetaria toda a nossa vida juntos...

Incondicional, você é essa força incondicional de planejar mesmo não te tendo, de te amar sem te odiar primeiro, de querer mesmo sem querer, de tocar mesmo com uma barreira nos separando da vida.

Te tenho dentro de mim e precisei dessa tua presença pequena e macia para entender o poder das palavras novamente. Essas sim, posso chamar de válvula de escape.

Estou num estado de te amar constantemente.
E fazia tempo...

domingo, 5 de agosto de 2012

Pescadora


Parece que menti mais uma vez quando disse que nunca mais havia chorado a tua falta.
Ainda não consigo me livrar das lembranças que tuas lágrimas me deixaram.
E ouso repetir todas às vezes, umas pela manhã e outras pela noite, a nossa história de trás pra frente.
Eu sou mesmo uma contadora de histórias.
Faço-as da maneira como me convém e os finais felizes ficam apenas em minhas projeções egoístas.
Eu pensei naquela cortina que refletia o escuro das quatro paredes de nosso desenrolar de pernas.
E uma trilha sonora sem fio vai entoando o som que conheci depois, mas preferi que você fizesse parte.
Assim vou vivendo a tua ausência. E, sobretudo, a minha.
Fraco amor.
Dos incompreendidos.
Da busca.
Do limite e da fronteira.
Amor territorialista. Dominador.
Irreversível.
Comprei um barco para mandar ao mar todas essas sementes de ilusão.
Viver o tempo inteiro “indo embora” parece estar me matando aos poucos.
Linhas da imaturidade.
A paixão presente tem me roubado aos poucos de ti.
Only Love.

sábado, 7 de julho de 2012

No se si estoy dormida


Sonho ou realidade sonho ou realidade sonho ou realidade sonho ou realidade sonho ou realidade sonho ou realidade sonho ou realidade sonho ou realidade sonho ou realidade até que ponto é um até que linha é outro os dois se costuram tão singelamente e camufladamente que já não consigo mais dissociar ou do outro sonho ou realidade:

Um morro. Um prédio. Duas cidades. Uma noite. Um dia. Otro homen. Uma menina “desconhecida”. Um bolo de galho. Convite. Desculpa. Daniel y una chica bela. Camiñando rápido cada vez más. El finge que no estoy. Yo tengo mucha tristeza y raiva. Pendengo! Corro. Encontro algumas pessoas que passam por mim e me olham. São mendigas. Um homem se aproxima e diz: vem comigo. Eu vou. Elas olham pra trás como se eu não as visse. Eu o cumprimentei e a elas não. O que há de errado comigo? Os monstros moram dentro de mim. Do que eu estou fugindo? De que? -- ---. Passo pelo mercado e não entro. Estava fechado. Chegamos no ex apartamento. O porteiro nem vê. Maldito, está sempre dormindo! Uma esperança. O homem me solta. Entramos. Ele tenta me beijar. Eu só estava fazendo uma boa ação. Solidariedade FODE COM TUDO. Eu tento me desvencilhar sem demonstrar temor. Subo. Digo que tenho um almoço em família. Ele desiste, por hora. Caos. Não sei se eu tenho mais medo dele ou de ficar sozinha comigo mesma. Eu o criei. Seu cabelo. Sua barba. Seu rosto avermelhado. Seu tamanho mediano. Sua força. Seu desafio. Ele está na minha mente. Mesmo assim eu tenho medo. Tranco a porta. Meu corpo treme. Mando mensagem para a tia torcendo para que ele não ouça minhas pernas tremerem, meu corpo todo teme. Ligo a TV. Minhas mãos tremem. Não consigo enviar a mensagem, ela fica pela metade. Agora ele bate na porta. Eu espio pelo buraco. Ele bate. Eu me assusto. Silêncio. Meus dentes batem uns nos outros. Consigo mandar a mensagem. Me tranco no quarto. El bate. Tengo miedo. Mis manos sueltan él telefono. Por que tengo tanto miedo? Lo que me habita? Meus tios e meus pais chegam. La agonia se termino. Uma prima que toma remédios há anos. Sofre de epilepsia. Eu grito. Quero falar, mas não deixam. Quero contar, mas não ouvem. Ela fala: aconteceu aquilo no meu trabalho. Fico pensativa. Ainda quero falar. El homi se fue, pero ahora tiene sangue en sus manos. Y un cuchillo. Alpargata. Peças de um quebra-cabeça. Me duele la pança. No puedo suportar. Al mismo tiempo, dos horrores. O mendigo matou 7 pessoas depois de desistir da porta. 7 pessoas desconhecidas. Pode ser a vizinha que me emprestou o táxi para o centro no ano retrasado. Ou Daniel. Pode ser o Zé. Minha prima nunca falou. Eu vejo a cena em minha mente. Suicídio. She’s gone. Su pelo rubio. Su cuerpo frágil. Se fue. She’s gone.  

domingo, 1 de julho de 2012

Traição

Perco-me no calendário... 
Ao voltar as origens, volto também a caligrafia no tempo esquecida diante do hábito da digitação. 
Quando foi que me cortaram a linguagem?
Demorei tanto para reencontrar em mim a escrita adormecida e a despertar para num segundo, em um piscar de olhos: o ano passou. Já não sou mais a mesma, me deixei morrer diante das investidas dos outros, me calei. 

Não era para ser o caos, isso não era para ser o caos.

Escrever não era para ser dor,
nem obrigação, 
nem desvontade,
desprazer, 
descida. 

Escrita não era morte. 
Escrita era para ser marca e vida, marca de vida, identidade e história. 
Por que deixei que me invadissem e negassem minha identidade? 
Quando foi que morri? 
Do caos, revejo minha vida agora. 
Se ela não tivesse chegado. 
Quem sabe onde eu estaria. 
Poderia ser a mesma história.
A palavra, a única que eu tenho, talvez seja isso que me faz sentir tão fundo.
Depois que eu acabo de dizer nunca é aquilo que eu queria ter dito. 
Eu me traio com palavras. 
Um romance era muito mais real se terminasse com morte. 
Você nunca saberia realmente o que eu sou. 
A minha mentira é maior e mais forte do que todos esses bailes de máscaras. 
Pormenores. 
O som do violão acode a nossa dor e o silêncio separa a finitude dessa relação. 
O meu crime foi nunca ter falado. Um dos meus crimes. 
Escrita, doce fuga. Ficção. Possibilidade de traição e de mentira. Desabafo cordial. 
Nunca posso ver o que virá, mas tenho escrito o que já foi.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Refluxo


ONTEM


Até hoje perplexo/ ante o que murchou/ e não eram pétalas.
De como este banco/ não reteve forma,/ cor ou lembrança.
Nem esta árvore/ balança o galho/ que balançava. Tudo foi breve/ e definitivo./ Eis está gravado
não no ar, em mim, /que por minha vez/ escrevo, dissipo.

Carlos Drummond de Andrade

Escrita. 
Atividade que move.Ternura que passa.
Passei por linhas e entrelinhas. Aquele "o" continuava a ser simples, porém a medida que o movia, o sentia,  o camarada insistia em me fazer tremer os joelhos.
Como pode essa simples letra ser tão enlouquecedora de sentidos?
Comecei a perceber, singelamente, que aquela palavra não era simples. No início, eram pequenas vogais submersas num aquário cheio de outras coisas. 
A sensação de trazê-las para perto de mim foi incansável ao revelar suas inúmeras respostas (ilusão?). 
Depois, passei a tocar com as pontas dos dedos palavras inteiras. Não eram fáceis, não eram simples. Doíam a cada passo, doiam a cada dia. 
Palavra inteiras parecem fazer mais estrago. Os números, apesar de palavras, não conseguem decifrar minha insônia. Eles não me eram mais suficientes. Eu queria uma refeição inteira; prometi aos textos que não os trairia, ignorando o fato de que todos somos traidores de nossos próprios sonhos. Ingênua demais, uma doce percepção nos faz pensar que não há espaço para um gosto amargo ali. A língua então, desvendou outros paladares. Quando consegui engolir todas aquelas palavras unidas, meu estômago começou a separá-las inteirinhas num movimento de fluxo, refluxo...
Não entendi nada.
Na hora de falar, engoli a saliva, seca. A garganta se contorceu. O coração disparou feito corda de relógio solta. Calei por medo.
Felizmente ainda tinha o sonho da escrita para me deixar iludir. 
Será que um dia vamos encontrar?

"é sempre mais difícil
ancorar um navio no espaço".

Ana Cristina César

domingo, 20 de maio de 2012

Diário de canto: 26/03/2012


Parece mesmo que eu ando tendo tempo de sofrer. Arrastando os dias pra não me livrar das últimas lembranças felizes de nossas vidas. Parece mesmo que o tempo não passou. Todas as noites em que o som da chuva bate na janela penso no último dia que estivemos emblemáticos, sorridentes, tentando se lembrar de alguma dose boa de nós. Eu nunca mais chorei a tua falta. Fico sem reação quando leio teu nome na tela. Ouço os meus dedos tocarem de leve as teclas interrompidos por uma sensação fragmentada de amor. “Amor sem palavras. Ou. Palavras de amor sem amor”. Sinceramente, eu não sei. Parece mesmo isso aqui um beco. Corri tanto que ultrapassei os sentimentos, mas sei “sei que respiro” nessa corrida sem lógica. Tentei por todas as vezes não abandonar o lado racional da vida, mas parece que tu estiveste a voltar nos momentos em que estive mais perto de compreender a ciência, só pra me deslocar do conforto que é não sentir. Tu fode com a minha mente. Metodologias, objetivos, dados e tudo isso pra que? Chegar ao final e entender o pedaço ínfimo de sorrateira incompletude que somos? Compreender cada vez mais que fomos nada diante de tudo. “Oh, pedaço de mim, oh metade afastada de mim”. De todos os julgamentos, esse tem sido o mais difícil de enfrentar. Talvez só seja o momento. Eu não quero mais enfrentar a oscilação, os desencontros, ou esse sentimento de que alguma coisa tem que morrer em mim para que outra nasça. Eu só queria não ter mais que rejeitar a ideia de tua volta. Então, não volte nunca mais. Permaneça quieto, permaneça longe. Enquanto eu caminho em direção ao nada que construí para os meus dias. Desconfortavelmente. Sem ti. E te peço, por favor, não me ligue mais quando a noite cair por cima dos teus ombros. Não me ligue mais quando sentires que sou a única que pode afagar tuas dores. Não me procure mais quando surgir um sorriso em meu rosto. Não me chame ao anoitecer, não me acorde da vida que inventei pra mim. Demorou muito tempo pra que eu conseguisse compor todas essas notas libertas de dor. Demorou muito para que os pássaros me acordassem da tua ausência. Então, imploro, não encoste em mim com as tuas mãos frias, teus olhos carentes, tuas rugas, teus vícios, tuas inconstâncias. Me deixa dormir em paz; já faz tempo demais, o que não faz é sentido. Sem te ter tido eu fui menos minha. Estive, por todo esse tempo, muito mais ao teu lado. E mesmo dizendo adeus diversas vezes, voltei porque acreditei demais no que foi vago.

i l u s ã o

domingo, 13 de maio de 2012

"O que estamos buscando hoje? De onde vem toda essa saudade?"

Pina

terça-feira, 1 de maio de 2012

Fraude

Inventei uma dor pra adiar meu compromisso. E não é que meu corpo acreditou! Se espalhou rapidinho por toda a extensão do meu pescoço e dessa vez, não havia pelos que protegesse as partes mais sensíveis. De cor leve e rosada passou a ser cinza, amarelo, pera com um tom de vermelho envelhecido. E a música de fundo não parecia ser mais alta do que as batidas aqui de dentro. Todas as concentrações de pensamentos em um só ponto, o ponto chave, e pronto, estourou: eu acho mesmo que eu sou uma fraude; até onde eu posso fingir sentir o que sinto, sonhar o que sonho, escrever. 

Inventei. Inventei um compromisso pra me adiar. E não é que quando vi já estava dentro demais pra desistir agora! Os ponteiros do relógio e as datas do calendário, todos também inventados, convencem nossa estadia de que não há tempo, é tarde, é tarde, é tarde, é tarde; já diria o corredor dos sonhos. Tempo? Que tempo é esse capaz de mandar em quem eu sou? "Tu só faz isso pra mudar a si mesma, não significa que irá mudar as coisas ao teu redor". Não diretamente, contemplei o raciocínio. Se fosse dessa forma será que seria menos perigos de lágrimas, cores em metamorfose na própria garganta, menos sulcos. Sulcos, sulcos, sulcos de dor.

É essa mania atual de querer adiar. Adiar e adiar e adiar. Quando eu passar a olhar o tempo de frente, sem esquecer das ancoragens, das rugas, das saudades, quem sabe eu possa adiar essa prática de adiar. A começar por essa escrita que chegou pra adiar a outra. Tenho andado em círculos e isso pode ser por esse medo enorme de olhar o tempo de frente. Eu deveria parar de pensar no tempo e tentar fazê-lo. 

Vou inventar um calendário pra mim.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

"era mais para marcar um tempo seu para ser gasto comigo".

falou já se preparando pra sair...

e eu li como se fosse: "parece que o tempo não passou pra nós"

às vezes me pergunto, quem de nós é mais sentimental?

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Eu, leitora

Quando comecei a ler os livros que me foram proibidos pela escola e discriminados (negados) pela universidade, caminhei, cada vez mais, para a seguinte questão:

- Quanto tempo fomos exiladas de nossos ideais?

Abri novamente a página da leitura que deveria ter feito há, quem sabe uns 5 anos e reli, dessa vez, consciente e motivada pela recusa dos outros:

"É possível conservar o que mereceria o nome de liberdade de criação artística e usá-la amplamente não apenas como trilha de fuga, mas como elemento necessário para descobrir e, talvez, alterar os traços do mundo que nos rodeia".

Parecia que o meu subjetivo dava razão para aquilo que, talvez por tempo demais, tive receio em aceitar.

"Ainda há tempo" - pensei, com lágrimas nos olhos e o coração a mil.

quinta-feira, 15 de março de 2012

nós

tu era a representação do limiar entre a razão e a emoção. de um lado, todos os meus anseios de luta e desejos de conquistas. do outro, a confortável certeza de uma respiração junto da minha. um me daria o confronto das ideias, experiências adquiridas em viagens sem rumo, aventuras tal qual viveram todos aqueles que me inspiram. outro, o chão que eu precisaria ter se quisesse um dia voltar, as vozes das crianças de manhã, o cheiro da erva fresca pela tarde, o som do violão tocado pelas tuas mãos. mas como toda a representação, também tu foste fruto de uma projeção minha. hoje não te vejo mais andando nessa linha, te vejo onde sempre estiveste, habitando teus rumos, procurando saber mais de ti. não há mais linha: desatei os nós.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Inspira

É que tapei meus ouvidos e pude sentir o interior do meu corpo inteiro concentrado em uma só parte. Lembrei de respirar umas duas, três vezes e depois contei até sessenta prendendo a respiração o máximo que pude. Sessenta segundos debaixo das sensações ofuscadas pelo cotidiano e talvez pelo tempo que tirou de foco. Um minuto de solidão. Ainda pudia sentir o toque como se meus trezentos e sessenta e oito minutos restantes de vida não fizessem diferença senão por aquele momento. Por trás do toque, mais trezentos e sessenta e nove desejos, angústias e malabarismos imaginários. Parece que a angústia de nunca ter certeza continua a mover a minha vida como um trem desgovernado que se perdeu nas entrelinhas do trilho. Parece que tudo aquilo que parece perde o sentido de existir como possibilidade naqueles sessenta e um segundos de toque. Eu juro, gostaria de ter parado. Não sei se ainda posso explicar a minha velocidade para os observadores do mundo. Só sei que fiquei porque ao que parece, gosto de parar um pouco. Ou parar é tudo aquilo que odeio e a dor, "a gente vira dor pra não ter que virar fim".

domingo, 4 de março de 2012

ar, me falta ar.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Laura

"Sim, eu estou tão cansado, mas não pra dizer que eu não acredito mais em você...
Sim, eu vou tomar aquele velho navio, aquele velho navio"

Fiquei sentada algumas horas pensando no nome da personagem principal dos meus anseios. Tomada pela ânsia e pela ousadia do sentimento de liberdade cortado no meio. Até que ponto essa vida é menos prisão? Gostei de Laura. Eu sempre gostei de Laura. Ela tinha uma faísca nos olhos que não deixava transparecer seus sentimentos cômodos. Laura tinha tudo para ser mais uma burguesinha vivendo a era da "mania de libertação", onde noites boêmias eram uma fuga dos padrões de vida da classe média. Entrou em confronto direto com seus pais, perdeu a esperança nos mais próximos, falou atoa aos quatro ventos, assistiu peças de teatro e leu as críticas na mídia alternativa. Laura não era diferente das milhares de meninas que se encantam pelo mundo visto com lentes de aumento. Ou pela ideia de ver o mundo de uma forma diferente. Só que quando Laura voltava para casa, ela não queria deixar de ser a menina que tinha se transformado. E sem ninguém que compartilhasse as mesmas ideias, ela era apenas a menina que saiu de casa mais cedo pra não ter uma família. Ninguém entendia que estudar para ela significa muito mais que uma mudança de posto nas estatísticas econômicas do governo. Estudar era admitir a vontade de sentir dor. Lembrou, por vezes, das palavras de sua amiga de infância: "Quando eu descobri que estudar indignava, resolvi que preferia dormir". Só que para Laura, não tinha mais volta. Por insistência, por gostar da solidão, por não ver sentido na vida, por ser naturalmente inconstante e por fim, por todos aqueles motivos que lutam os que ainda lutam. Por que será que alguns têm tanta disposição para escolher a dor?

- Agora me diz, espelho meu, existe alguém mais masoquista do que eu? - Seus olhos fecharam enquanto mais uma madrugada quase que insone informava a Laura que as suas escolhas não importam pro mundo, estão, na maioria das vezes, predestinadas a morrerem consigo.

E o sentimento de morte é o que se leva da vida.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Eu preciso saber quem eu sou...
Me perdi nessa busca.
Além de não saber quem sou eu,
nem mais sei do que sinto,
do que penso.
Tornei-me a sombra daquilo que não fui capaz de ser, de sentir, de tocar
Fúnebre incapacidade de mim.

F.P.: Poder saber pensar!
Poder saber sentir!

"As perdas ficam perdidas"

Para se construir uma mentira você precisa reunir três verdades:

1ª Você tem certeza do que está fazendo.
2ª Você não vai se arrepender.
3ª V + V = W

PS: Amamo-nos todos uns aos outros, e a mentira é o beijo que trocamos*.

*F. P. (B. S.)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Pormenores

Fechei a porta e encostei a parte de trás do meu corpo com força na parede gelada. Fui deslizando delicadamente até encontrar o chão avermelhado surpreendida pelo fato do que acabava de acontecer, enquanto uma pergunta ecoava na minha mente: quando foi que eu deixei de acreditar?
Ainda no chão, levei as mãos ao meu rosto e esfreguei bem meus olhos. Será que eu estava preparada para lidar com tudo isso? Levantei devagar. Lembrei daquele texto lido em algum momento aventureiro. Percebi que eu não estava mais falando de fé e repeti: quando foi que eu deixei de acreditar?
Tentei colocar na minha cabeça "eu tenho os sentimentos, só não posso senti-los" e aquele filme de memórias começou a passar por mim. Tentei lembrar das vezes que havia sentido tudo aquilo que eu não podia mais sentir. Pensei na últimas vez. O lugar era quente, mas eu estava com frio. Vestia um casaco preto e toda aquela música alta, aqueles cheiros misturados, a droga correndo pelas minhas veias, produziam, quem sabe, o efeito necessário para encontrar os sentimentos perdidos. Mas eram outros olhos que estavam lá. Olhos de muitas ressacas. Eles desviavam o tempo todo de onde sabiam que podiam se perder. Evitar não basta, foi por isso que senti, como talvez fosse, por uma última vez, os sentimentos escorrerem pelo meu rosto frio. Alguns minutos se passaram e eu estava de volta.
Ainda não tenho a resposta. E nem sei se um dia vou encontrá-la. E talvez nem queira.

domingo, 22 de janeiro de 2012

about us

"será que é pedir demais querer ficar em paz?"

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A paz do meu mundo é você

Você pode impedir que uma nova flor renasça aqui, mas não pode impedir a primavera de acontecer.
E quando ela chegar, com suas cores, seus risos, suas vidas...serei então, novamente alguém motivada pela vitória, pela certeza de que todas as dores vão passar, que iremos respirar o mesmo ar, que as fronteiras estarão apenas em nossa imaginação, restos de um passado.
E eu sinto ela chegar, cada vez mais presente, sonho de um futuro tão esperado, ouço seus versos, suas melodias, suas paixões não adiadas, posso sentir na pele parte do meu sangue borbulhar.
Porque um coração que insiste em bater acompanhando dias tão tristes irá, em breve, pulsar incansavelmente com vontade de viver.
Há algo de motivador ao abrir os olhos pela manhã, há algo de encantador nessa espera tão prolongada, há algo para nós. Todos nós. Sei que não posso adiantar sua chegada, eu lamento, mas os que não desistirem sobreviverão para ver nascer o mais belo sol, aquele que brilha igual para todos. Depois das rosas brancas e vermelhas, florescerão rosas de todas as cores nos jardins livres de cercas. E estaremos, enfim, todos sentados a mesa cantando a alegria das grandes utopias.
Não posso te ver desejar a morte sem ter desfrutado contigo do verdadeiro sentido da vida. Só a luta, somente ela, manterá a humanidade resistente.
Até a próxima primavera. Para sempre.