sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

dos outros para mim




"Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho." 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

e só

"A situação hoje é um suco de soja sabor frapê de utopias".

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

sou

Me ajude
a  morrer,
porque só assim eu vivo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O toque de Merleau-Ponty

Espaço, Tempo e o Mundo Virtual, 
por Marilena Chauí - Café Filosófico do dia 2 de setembro de 2010

Transcrição de Leeward Wang

Merleau Ponty escreveu: Nós não somos uma consciência cognitiva pura. Nós somos uma consciência encarnada num corpo. O nosso Corpo não é um objeto tal como descrito pelas ciências. Mas é um corpo humano, isto é, habitado e animado por uma consciência. Nós não somos pensamento puro, porque nós somos um corpo. Mas nós não somos uma coisa, porque nós somos uma consciência.

O MUNDO não é um conjunto de coisas e fatos estudados pela ciências segundo relações causais e funcionais. Além do mundo como conjunto racional de fatos científicos existe o mundo como lugar em que vivemos, onde vivemos com os outros e rodeados pelas coisas.

Um mundo qualitativo de cores, sons, odores, tessituras, figuras, fisionomias, obstáculos, caminhos, lembranças, um mundo afetivo, um mundo com os outros, um mundo de conflito, de luta, de esperança, de paz. Nós somos, dizia Merleau Ponty, seres temporais, ou seja, nós nascemos e temos consciência do nascimento e da morte. Ou seja, nós temos a memória do passado, a esperança do futuro, nós somos seres que fazem a história e sofrem os efeitos da história. Nós somos tempo. O tempo existe, porque nós existimos.

Nós somos seres espaciais. Para nós o mundo é feito de lugares. Perto, longe, o caminho, a mata, acidade, o campo, o mar, a montanha, o céu, a terra. Esse mundo espacial é feito de dimensões – o grande, o pequeno, o maior, o menor. Ele é feito de qualidades -cores, sabores, tessituras, odores, sons.

O que é o nosso corpo?

A física dirá que ele é um agregado de átomos, uma certa massa e energia que funciona de acordo comas leis gerais da natureza. A química acrescentará que ele é feito de moléculas de água, oxigênio ,carbono, enzimas e proteínas, funcionando como qualquer outro corpo químico. A biologia dirá que é um organismo vivo, um indivíduo, membro de uma espécie, anima, mamífero, vertebrado, bípede, capaz de adaptar-se ao meio ambiente por operações e funções internas, dotado de um código genético hereditário e que se reproduz sexualmente. A psicologia acrescentará que é um feixe de carne, músculos, ossos que formam aparelhos receptores de estímulos e emissores de respostas por meio dos quais apresenta comportamentos observáveis.

Estas respostas por meio das quais o nosso corpo aparece dizem que nosso corpo é uma coisa entre coisas. Uma máquina, um autômato, cujas operações são observáveis direta ou indiretamente podendo ser examinada em seus mínimos detalhes nos laboratórios, classificado e conhecido. Mas é isso um corpo que é nosso. O que é o meu corpo? Meu corpo é um ser visível, no meio de outros seres visíveis. Mas tem a peculiaridade de ser um visível vidente, eu vejo, além de ser vista. Mas, não só isso. Eu posso me ver!

Ou seja, eu sou visível para mim mesma e eu posso me ver vendo. Há uma interioridade na visão. Meu corpo é um ser táctil, como os outros corpos. Pode ser tocado, mas ele também tem o poder de tocar, ele é tocante, mas ele é capaz de tocar-se. O tato é uma operação que o corpo pode realizar sobre si mesmo. Meu corpo é sonoro como os cristais e os metais. Podendo ser ouvido, mas ele também tem o poder de ouvir. Mais do que isso, ele pode fazer se ouvir e ele pode ouvir-se quando ele emiti sons. Eu me ouço falando e ouço quem me fala. Eu sou, portanto, sonora para mim mesmo. Meu corpo é móvel entre as coisas móveis, ele é dotado do poder de mover, ele é um movente. Mas ele é um móvel movente que tem o poder de Se mover ao mover. Portanto, ele é móvel e movente para si próprio. Meu corpo não é uma coisa, não é uma máquina, ele não é um feixe de ossos, músculos e sangue, nem uma rede de causas e efeitos, ele não é um receptáculo para uma alma ou para uma consciência. O meu corpo é um sensível que é sensível para si mesmo.

O meu corpo é o meu modo fundamental de ser no mundo.

Meu corpo... quando minha mão direita toca a minha mão esquerda, o que ocorre aqui é um mistério, é um enigma, porque a mão direita toca a mão esquerda mas é tocada pela mão esquerda, de tal modo que aquele que toca é tocado e aquele que é tocante é tocado. E eu não sei mais qual mão toca e qual mão é tocada. O meu corpo é uma reflexão reversível nele mesmo.

Isso é ser um corpo!

Ora, o meu corpo estende a mão e toca a mão do outro, vê um outro olhar, percebe uma fisionomia, escuta uma outra voz, eu sei que diante de mim está um corpo que é do meu outro. Um outro humano que é habitado por uma consciência como eu. E eu sei, por que ele me fala, e como eu, seu corpo produz palavras, produz sentido. Nossos corpos formam a intercorporeidade, porque eles são habitados por uma consciência encarnada. Porque há uma consciência encarnada, nós formamos uma intersubjetividade.

Enlaçado no tecido do visível, meu corpo continua a se ver, atado no tecido do tangível ele continua a se tocar, movido no tecido do movimento ele não cessa de se mover. Sentindo-se sentir, o corpo realiza algo que a tradição filosófica sempre considerou privilégio exclusivo da consciência
 –
O meu corpo reflexiona!

Na tradição filosófica a reflexão sempre foi o apanágio, o diferenciador da alma com relação ao corpo, da consciência com relação ao corpo e ao mundo. Quando nós tomamos o corpo dessa maneira como a fenomenologia de Merleau-Ponty toma nos vemos aqui que a primeira reflexão não é realizada pela consciência, a primeira reflexão é realizada pelo corpo. A consciência aprende com corpo a refletir. Massa sensível e sensorial segregada na massa de um mundo sensorial o nosso corpo é misterioso. E esse mistério corporal que é atestado pela experiência criadora dos artistas. A criação é a experiência de uma diferenciação, onde uma separação no interior da indivisão.

Por exemplo, a experiência criadora do pintor e do escultor, é uma experiência que se efetua naquele momento no qual um visível, o corpo do pintor, o corpo do escultor, se faz vidente - ele vê - sem sair da visibilidade, e um vidente se faz visível: o quadro ou a escultura, sem sair da visibilidade. A experiência criadora do músico é um momento no qual um ouvinte - o corpo do músico - se faz sonoro sem sair da sonoridade. E um sonoro - a música, se faz audível sem sair da sonoridade. A experiência do escritor e do poeta é um momento no qual um falante - o corpo do poeta e do escritor - se faz dizível sem abandonar a linguagem e um dizível - o poema o livro - se faz falante sem sair da linguagem. O corpo é, e é isso que a experiência artística mostra, essa capacidade de produzir uma diferenciação no interior de um mundo indiviso. Onde eu não preciso me separar do mundo para me relacionar com ele através da obra de arte.

Mas é no interior do mundo sensível, do mundo sensorial, esse mundo espacial e temporal que a obra de arte é produzida, o que que ela é, ela é uma diferença no interior deste todo que nos habitamos.

É isso Ser Espacial e Ser Temporal.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

sou breve

Escrever, para que? Sou tomada por um desejo intransigente de deixar tudo pra trás. O velho desespero da página em branco que me enchia de fobia no começo da faculdade foi transferido pelo não-sentido daquilo que faço mesmo sendo meu ato responsável. O que é pior, uma página em branco ou vinte delas preenchidas automaticamente numa tentativa de atingir um resultado esperado e não o valor do processo?  
Para onde foram meus desejos fluídos de escrita. O tempo, outra vez o tempo vai passando e grita alto em meus ouvidos "é tarde!". Como encarar como processo uma ciência de resultados...Os mesmo resultados me mantiveram por cerca de dois anos, protegida da chuva por um teto, longe do frio; sadia e bem alimentada. O que me impede de terminar logo com isso? De tomar um lado? De sair ou ficar...

Me faça bem
Amor ou tédio?
Por amor, eu fico
ou vou?
O tédio é o mesmo
consequência 
do meu breve
ficar...
Deixa disso
Só não me faça
intolerante,
Não me faça mais
voltar.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Meu primeiro Adeus

Por não acreditar que o Adeus seja um momento em que não se possa mais voltar, resolvi iniciar uma série de fragmentos em que deixo minhas saudades aos que amei.
De início, não é fácil deixar as coisas para trás, fechar a porta e não expor mais o tanto que se alojou dentro de mim por vários, intensos e inesgotáveis anos aqui.
Tenho sido tomada por um sentimento de repulsa, para deixar bastante claro isso que venho sentindo, isso que antes era revolta, depois virou tristeza intensificada por angústia e hoje traduzo, não de forma definitiva, como uma repulsa ávida e dominante sobre tudo que faço, penso, sinto, vejo e toco. 
Meu corpo já não impele os mesmos desejos físicos, de espécie que veio ao mundo, anos atrás e antes que possamos pensar "é normal não agir mais como uma adolescente apaixonada", eu preciso dizer que ele não age mais assim porque tudo dentro de mim está morto. Pulverizaram-me os sentimentos. E eles se dividem em milhares de outras coisas mais que eu não vou saber dizer, vou me confundir e tudo isso pode ser associado, novamente, a uma adolescência tardia (só que sem a instintiva parte física). Essa situação indica um aspecto de fragilidade, a inércia. Quando sinto que dou um passo a frente, logo em seguida volto dois, o que resulta sempre em ficar no mesmo lugar, o da partida. 
Os otimistas considerariam isso como um processo em que a experiência é sempre diferente, então, mesmo que eu volte ao mesmo lugar, nunca mais serei a mesma. Os pessimistas dirão que meus passos são inúteis diante da tamanha amplitude que o globo terrestre carrega consigo. Os positivistas vão dividir a experiência em cinco partes e as outras cinco partes em 3, no fim concluirão que os passos podem ser estudados por si só, independente da dona, no caso eu, daqueles pés. Os niilistas rirão da minha atitude arrogante de vanguarda e depois dirão, sacudindo algum copo com algum destilado, que a juventude de hoje em dia está velha, afinal, onde já se viu querer imaginar um futuro possível que não seja o desastre do agora.
As crianças rirão um pouco e perguntarão: "posso me juntar a sua amarelinha?". Os jornalistas vão querer saber e divulgar minimamente as causas e podem demonstrar alguma preocupação pitoresca com as consequências. Os gatos me olharão com olhos de curiosidade e podem querer se juntar a mim, por um momento se esquecerão que possuem 7 vidas. 
Meus pais vão chorar um pouco, mas seguirão diante de tudo, do caos, das lágrimas, do medo, das perguntas, como sempre fizeram durante minha vida toda. São fortes. Minha vó vai perguntar a Deus, "por que" e acreditar até o fim de sua experiente vida que Ele, o todo poderoso, quis assim. 
Aquelas amigas antigas irão se surpreender e me compreender depois, pode demorar um pouco, mas tenham paciência. Meus livros farão festa nas mãos de Norton. Meus maiores amores me perdoarão e irão rir quando se lembrarem dos meus vícios e virtudes.
Mas, que pretensão a minha querer saber o que virá sempre, antes e depois de tudo, que narcisismo doentio e egocêntrico. Será que um dia vamos sair de dentro de nós mesmos? Exatamente essas palavras foram as que ouvi de ti, minha paixão repentina e transgressora.
No fim, eu sei, serei apenas mais um número para as estatísticas do século XXI. E que pretensão a minha, num mundo de corpos, querer ser número. Que pretensão a minha querer ser. Que pretensão!

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Hoje acordei um pouco Clarice...

"Quem és tu que me lês? 
És o meu segredo ou sou eu o teu?"






terça-feira, 25 de junho de 2013

Hoje, no mercado

Têm dias que só indo ao mercado. Por mais que a gente evite. Mas, as contas estão altas e o mercadinho aqui da frente também precisa garantir o seu. Como fazem isso? Cobrando três vezes mais que o preço de outros estabelecimentos maiores. Respira fundo, vamos lá. Filas, caixas, pessoas absortas pelas propagandas e nós, dois animaizinhos afugentados no meio dessa bagunça toda. 
Pensei: Bom, é melhor cortar o leite de vez, mas e o de soja? Se não for da marca mais cara, não tem. E lá vamos nós, rodar o lugar em busca do preço mais justo. Ou da mão de obra mais barata... Contradições a parte, voltemos ao objetivo principal: sair logo daqui.
- Vou buscar o pão enquanto você vê o preço do leite em pó de soja.
- Beleza.
Continuei a rodar prateleiras em vão. Todos o pães que gosto vencem daqui quatro dias. Vou levar essa torrada integral mesmo. Enquanto pensava se levaria ou não, ainda, o pão, não pude deixar de ouvir a conversa ao lado:
- Oi, seu Ademar! - falou uma mulher de aparentemente 50 anos, cabelos curtos, de tom marrom. Mas não observei muito, só pude perceber mesmo, depois de prestar atenção na conversa dos dois, que me despertou, visto que nos dias de hoje, não só a falta do pão tem nos tirado de casa...
- Oi. - disse baixinho, o emburrado senhor Ademar. Ademar aparentava ter mais de 60 anos e seu semblante não me era estranho. Já vi muitos senhores Ademar por aí, daqueles que evitam contato o máximo possível, a não ser que você o encontre entre o ir e vir de um corredor. Aí não dá pra fugir, seu Ademar! 
- Tudo bem com o senhor? - a mulher era daquelas que insistem na conversa, ainda mais quando você parece não querer conversar. 
- Tudo bem, sim... Se não fosse pela cidade... - Antes de o senhor terminar, seu Ademar, (e agora é a hora na história em que comecei a prestar realmente atenção nos dois, suas falas descompromissadas, a ida com pressa ao mercado, o medo dos outros e, é claro, a falta de vontade para a mudança) posso tirar conclusões precipitadas a seu respeito? Mas escrevo como quem já viveu aquele exato momento e antecipo as conclusões porque vi como se deu o fim deste diálogo.
- Ah, mas eu acabei de vim de lá e está tudo calmo, verdade, não tem bagunça não. Está... - e as palavras lhe faltaram porque sabe-se bem que ela não sabia como realmente estava, passou o tempo e ela se limitou a preocupação do atravessar e não atravessar a ponte, da adaptação, diria de forma mais genérica, porém completa, a meu ver. O nome dela, não sei, mas me permito inventar porque apesar de estudar que todos somos diferentes, em nossas particularidades, que todo ser é irrepetível, só conseguia ver dona Fátima como todas as outras donas Juremas, Rosanas, Ledas, Solanges. Como todos os outros senhores Ademar (no plural), Jucas, Êlios, Tadeus. Todas estas e todos estes levantam as sobrancelhas e fazem cara feia quando veem seus filhos e netos prontos para não serem iguais a eles, apesar de os pupilos levarem muito de cada um. 
Agora, eu me pergunto, o que nos faz ser tão iguais uns aos outros, repetindo palavras e atos sem ao menos nos preocupar com o que é dito, com o que é feito? Depois dessa pausa pensei em pegar a fila da padaria, só que fiquei com medo do que poderia ouvir no caminho e na espera. 


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Nada mais que isso

Penso que tem algo errado quando acho todas as pessoas hipócritas. A começar por mim.

domingo, 26 de maio de 2013

Porque chorei um pouco hoje

Hoje é também ontem e poderá ser amanhã
Corre-se o risco quando seu horizonte é uma utopia
"(...) continuar a caminhar" sempre, chora o Poeta
em busca de significado para a vida

e a loucura de nunca se chegar
constrói fronteiras em forma de muralhas
pessoas em forma de soldados

tuas lágrimas que já molharam tanto o meu peito
próximas e constantes
tornam-se, cada vez mais,
minhas

Onde foi que teus passos se cruzaram
com os meus
a ponto de não distinguirmos
cada pedaço de nós?

ontem senti sede da tua ausência áspera
da briga sincera
pedi por verdade, por favor
me traga, na tua volta, um pouco do olhar singelo que levaste contigo no momento em que,
impulsiva,
decidiste por partir

tem tanta coisa acumulada para compartilhar com as tuas
tem feito dias frios 
e é bastante estranho esquecer o gosto do teu café
PASSADO


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Na biblioteca

Passou?
Não sei mais
o quanto tenho
que escrever,
a quantidade de linhas
a traçar,
pra me livrar
desse sentimento
corrompido.
Somos outros.
Outros de nós mesmos.
Mesmo nós.
Esses dias se somam ao hiato de tempo preso ao meu corpo.
Acabou.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Paula Bonet

Inspiração para que eu fizesse algo que não fazia há muito tempo: desenhar.

Hoje, tenho um mural na parede do meu quarto.

Grande parte da inspiração, veio de Paula Bonet.

Essa foi a primeira que fiz, me faz respirar fundo.

Gostaria de tatuar a do lobo com as mãos.

Qual a influência que ele desempenha em você?

Corre, menina.

Você tem gosto de limão.

Não somos palhaços, não!

Novamente, respira profundo...

Caos.

Gêmeas?

Cativa-me.

Sempre quis.

Ilustrações de Paula Bonet.
Para mais ilustrações: http://paulabonet.wordpress.com/page/10/

Não se preocupe, meu amor. A gente não precisa de muito dinheiro pra ser feliz.
Música: You and I - Ingrid Michaelson




terça-feira, 7 de maio de 2013

Castanhas no quintal

Era mais um dia de verão e os pneus da tua bicicleta vermelha, antiga, derrapavam candidamente pela estrada de terra. Naquele tempo ainda não tinha asfalto na frente do teu quintal. Não lembro se tu viveste suficiente para ver o asfalto brotar. Muitas vidas brotaram na tua horta singela antes de tua partida. 
Lembras daquele morango vermelho e pequeninho, do tempo em que não tinha veneno, a terra e o ar eram limpos o bastante pra fazer nascer a fruta mais doce no inverno e a mais refrescante no verão. 
E mesmo azeda, eu e meu primo adorávamos arrancar limões frescos do pé, descascar e comer com sal. Naquela hora, não importava mais nada. Queríamos saber quem era o mais forte, que aguentaria um limão inteiro. É claro, que ele, acostumado com a vida na terra saía pulando e rindo de mim quando eu desistia na metade. Brincávamos de circo no teu quintal. Duas cadeiras compunham o cenário. Eu era a assistente do malabarista. Ele equilibrava uma laranja na cabeça e jogava outras duas pra cima, com muito treino, acelerava cada vez mais. Eu prestava atenção com os olhos brilhando e ao mesmo tempo torcendo para fazer meu número torto de contorcionismo. 
No inverno tinha pocan. Costumávamos sentar todos no sol quente após o almoço com cestos cheios de tangerinas e pocans. Não existia sensação melhor do que descascar esta fruta e sentir os gomos suculentos. Até hoje sinto água na boa ao lembrar. 
Neste momento, tu sabes que lembro de ti com saudades de criança e utopias de juventude. A pessoa que me fez, pela primeira vez em minha vida, questionar as coisas ao meu redor. E percebê-las, devagar e aos poucos. 
Queria te contar sobre aquelas castanhas que jogaste no quintal. Parece que hoje havia um cesto coberto delas. Enquanto me contavam, só conseguia pensar em teus olhos complacentes. Meu coração pulsa de felicidade ao saber dos teus frutos. Quero sonhar contigo hoje...

terça-feira, 26 de março de 2013

Enterro

Engraçado. Não acredito em previsões e parece que previ a minha vinda aqui hoje. Trouxe flores vivas, irônico pra quem se sente num cemitério. Isso não tem a ver com religião, apenas com uma pá e terra. Cada vez mais próxima da terra tenho enterrado tanto. E pra quê enterrar serve? Pra continuar.
Ouvi de um grande amigo hoje: "Escreve, tu sempre gostou disso". Tu sabias tanto de mim, mas não me conheces mais. Tenho odiado escrever e odiado tudo o que escrevo. Respondi: Tu queres dizer que estou negando? E tu assentiste com uma respiração leve e um breve sim. Ah, que saudade me deu dessa tua mania de resposta breve. Nesse momento me tornei feliz por não ter te enterrado há dois anos. Apesar de muito tentar. Teu lugar não é com os micróbios, teu lugar é fazendo pessoas se sentirem felizes, como naquele minuto em que te liguei. Não sou mais uma sacola de mercado no teu pé e tu não és mais meu anti-herói. É disso que vivemos, transformações.
Só que vim aqui pra enterrar e comecei esse texto torto sendo feliz, ainda que esteja decepcionada. Essa palavra foi outra pessoa viva em mim que disse quando soube a história: "É ruim quando jogam coisas na nossa cara, não é? Dói." Eu só pude concordar. Aliás é o que fiz o tempo inteiro durante bastante tempo. Concordei. Com as faixas, os prazos, os calendários, as sobrecargas, os medos, as crises, as humilhações. Concordei com o dinheiro desperdiçado. Com os balbucios e burburinhos quando eu me virava. Vocês acham que eu não sei que todos aí dentro me acham louca? Isso é porque vocês estão tempo demais aí dentro pra saberem o que tem sido dito, aqui fora, das disciplinas nobres feitas pelos intelectuais da produtividade.
Algum consolo? Um tapinha amigo nas costas? Não, obrigada.
Lembrei de Santin falando uma de suas maravilhosas falas em algum momento de felicidade: "Quando tiverem dúvidas ou estiverem cansados, venham pra cá, venham pro meio do povo, o povo ajuda, o povo sabe". Finalmente a lágrima enterrada no fundo dos meus olhos resolveu cair agora, no momento em que citei Santin e por que será? A garganta também apertou um pouco. Porque as vezes acho que estamos fazendo o inverso. Saindo de lá e esquecendo quem somos. Todos os dias que andei pelas escadas daquela universidade esqueci quem eu era, cada vez mais um pouco, deixei de sorrir, enterrei-me em metas e metais em decomposição. Me virei do avesso e comecei a me sentir feito a válvula da panela de pressão. Daquele jeito que só ela roda e expulsa, exorciza, se livra de toda a água acumulada. Foi a primeira vez que chorei em 8 meses. E depois disso não parei mais. E lembrando, eu choro. E chorando, eu lembro. Eu sei, há uma inversão cíclica em meu texto. Agora, há também uma forma de amenizar sua dor. "Vá para a sala de aula e lide com os problemas do mundo inteiro. Estude bastante Psicologia da Educação para isso. Não seja tão dramática, é só um pouco de dinheiro. Conquiste sua independência financeira." Depois disso, fiquei calada por quarenta minutos esperando as lágrimas caírem, uma a uma. Cheguei até aqui pra que de forma resumida, você resuma vidas a cifrões. Eu deveria ir embora dessa porra mesmo. 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Efême(r)a

Efêmera.
Porque sei que sou efêmera.
No trabalho, nos estudos, nas artes, nos bares e coisas afim.
Tem tanta coisa que eu queria entender, entender o que faz eu me apaixonar pelas coisas tão rápido e odiá-las também num segundo depois.
Cansada de ter um porto pra ficar. E mais ainda de não ter lugar algum pra ir.
Sempre me arrependendo de dizer depois que disse.

terça-feira, 19 de março de 2013

EL DERECHO AL DELIRIO, por Eduardo Galeano




¿Qué tal si deliramos por un ratito? ¿Qué tal si clavamos los ojos más allá de la infamia para adivinar otro mundo posible?
El aire estará limpio de todo veneno que no provenga de los miedos humanos y de las humanas pasiones;
En las calles, los automóviles serán aplastados por los perros;
La gente no será manejada por el automóvil, ni será programada por el ordenador, ni será comprada por el supermercado, ni será tampoco mirada por el televisor;
El televisor dejará de ser el miembro más importante de la familia y será tratado como la plancha o el lavarropas;
Se incorporará a los códigos penales el delito de estupidez, que cometen quienes viven por tener o por ganar, en vez de vivir por vivir nomás, como canta el pájaro sin saber que canta y como juega el niño sin saber que juega;
En ningún país irán presos los muchachos que se nieguen a cumplir el servicio militar, sino los que quieran cumplirlo;
Nadie vivirá para trabajar pero todos trabajarán para vivir;
Los economistas no llamarán nivel de vida al nivel de consumo, ni llamarán calidad de vida a la cantidad de cosas;
Los cocineros no creerán que a las langostas les encanta que las hiervan vivas;
Los historiadores no creerán que a los países les encanta ser invadidos;
Los políticos no creerán que a los pobres les encanta comer promesas;
La solemnidad se dejará de creer que es una virtud, y nadie tomará en serio a nadie que no sea capaz de tomarse el pelo;
La muerte y el dinero perderán sus mágicos poderes y ni por defunción ni por fortuna se convertirá el canalla en virtuoso caballero;
La comida no será una mercancía, ni la comunicación un negocio, porque la comida y la comunicación son derechos humanos;
Nadie morirá de hambre, porque nadie morirá de indigestión;
Los niños de la calle no serán tratados como si fueran basura, porque no habrá niños de la calle;
Los niños ricos no serán tratados como si fueran dinero, porque no habrá niños ricos;
La educación no será el privilegio de quienes puedan pagarla y la policía no será la maldición de quienes no puedan comprarla;
La justicia y la libertad, hermanas siamesas condenadas a vivir separadas, volverán a juntarse, bien pegaditas, espalda contra espalda;
En Argentina, las locas de Plaza de Mayo serán un ejemplo de salud mental, porque ellas se negaron a olvidar en los tiempos de la amnesia obligatoria;
La Santa Madre Iglesia corregirá las erratas de las tablas de Moisés, y el sexto mandamiento ordenará festejar el cuerpo;
La Iglesia también dictará otro mandamiento, que se le había olvidado a Dios: «Amarás a la naturaleza, de la que formas parte»;
Serán reforestados los desiertos del mundo y los desiertos del alma;
Los desesperados serán esperados y los perdidos serán encontrados porque ellos se desesperaron de tanto esperar y ellos se perdieron por tanto buscar;
Seremos compatriotas y contemporáneos de todos los que tengan voluntad de belleza y voluntad de justicia, hayan nacido donde hayan nacido y hayan vivido cuando hayan vivido, sin que importen ni un poquito las fronteras del mapa o del tiempo;
Seremos imperfectos porque la perfección seguirá siendo el aburrido privilegio de los dioses; pero en este mundo, en este mundo chambón y jodido, seremos capaces de vivir cada como si fuera el primero y, cada noche como si fuera la última.

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O direito ao delírio, por Eduardo Galeano

Que tal começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?
Que tal se delirarmos por um momentinho?
Ao fim do milênio vamos fixar os olhos mais para lá da infâmia para adivinhar outro mundo possível.
O ar vai estar limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e das paixões humanas.
As pessoas não serão dirigidas pelo automóvel, nem serão programadas pelo computador, nem serão compradas pelo supermercado, nem serão assistidas pela televisão.
A televisão deixará de ser o membro mais importante da família.
As pessoas trabalharão para viver em lugar de viver para trabalhar.
Se incorporará aos Códigos Penais o delito de estupidez que cometem os que vivem por ter ou ganhar ao invés de viver por viver somente, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca.
Em nenhum país serão presos os rapazes que se neguem a cumprir serviço militar, mas sim os que queiram cumprir.
Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas.
Os cozinheiros não pensarão que as lagostas gostam de ser fervidas vivas.
Os historiadores não acreditarão que os países adoram ser invadidos.
O mundo já não estará em guerra contra os pobres, mas sim contra a pobreza.
E a indústria militar não terá outro remédio senão declarar-se quebrada.
A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos.
Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão.
As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua.
As crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá crianças ricas.
A educação não será um privilégio de quem possa pagá-la e a polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la.
A justiça e a liberdade, irmãs siamesas, condenadas a viver separadas, voltarão a juntar-se, voltarão a juntar-se bem de perto, costas com costas.
Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória.
A perfeição seguirá sendo o privilégio tedioso dos deuses, mas neste mundo, neste mundo avacalhado e maldito, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro.

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THE RIGHT TO DELIRIUM, by Eduardo Galeano

What if we were to exercise the as yet undeclared right to dream? What if we were to fantasise, even for a moment? Let’s project our vision beyond the current world of infamy and imagine another possible world: a world  
Where the air will be clean of every poison that doesn’t come from human fears and human passions; 
Where in the streets, the automobiles will be run over by the dogs; 
Where people will not be driven by the automobile, or programmed by the computer, or watched by the television; 
Where the TV will no longer be the most important member of the family, but will be treated like the clothes iron or the washing machine; 
Where people will work to live and will not live to work; 
Where there will be  a  law that makes it a crime to be stupid, which is defined as living for the sake of possession or of gain, instead of living for the celebration of life itself, like the bird that sings without knowing what is sings and the child who plays without knowing what game it is playing; 
Where no country will make prisoners of young men who refuse military service, only of those who wish to undertake it; 
Where economists will not call the level of consumption “the standard of living”, nor will they confuse the quantity of things with the quality of life;  
Where cooks will not believe that lobsters just love to be boiled alive; 
And historians will not believe that countries just love to be invaded; 
And politicians will not believe that poor people just love to live on promises; 
Where solemnity will not be a virtue and nobody will take seriously those who cannot jest; 
Where death and money will have lost their magical powers, so that thieves and oppressors do not magically become gentlemen of virtue merely because they have died and left a great deal of money; 
Where no one will be thought to be a hero, or a fool, for doing what she thinks is right instead of what is convenient;  
Where the world will not be at war with the poor, but against poverty, and to ensure victory the military industrial complex will need only to abolish itself; 
Where food will not be a commodity, or communication a business, because food and communication will be human rights; 
Where nobody will die of hunger, because nobody will die of indigestion;  
Where street children will not treated like garbage, because there will be no street children; 
Where rich children will not be treated like money, because there will no rich children; 
Where education will not be a privilege of those who can pay for it; 
Nor will the police be the curse of those who cannot buy them; 
Where justice and liberty, Siamese twins now condemned to live apart, will once more be joined together, cemented, shoulder to shoulder; 
Where a woman, black, will be President of Brazil, and another woman, black, will be President of the United States; where an Indian woman will rule Guatemala and another, Peru; 
And in Argentina, the “mad women” of the Plaza de Mayo will be seen as exemplars of sanity, because they refused to forget in a time of compulsory amnesia; 
Where the Holy Mother Church will correct the printing errors in the Tablet of Moses, and the Sixth Commandment will be an injunction to celebrate the body; 
Where the Church has also added another commandment, which God forgot: “Love thee Nature, of which thou formest a part”; 
Where the deserts of the world are reforested, as are the deserts of the soul; 
Where those who despair have hope, and those who are lost are found, for they who despair are those who hope for much and they who are lost are those who seek for much; 
Where we are the compatriots and contemporaries of all who want justice and beauty in the world; no matter where they were born and when they lived, without the slightest regard for the boundaries of time and space; 
Where perfection will continue to be the absurd privilege of the gods, but in this untidy and messed-up world, every night is lived as if it is the last and every day as if it is the first. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

E hoje eu sei...


...sem você sou pá furada...

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Be Comfortable, Creature



                      Ionsáigh.
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