sexta-feira, 1 de outubro de 2021

maternar maternar maternar

confiar na sua intuição, na sabedoria dos mais velhos
ouvir os mais velhos sem perder a sua identidade de mãe
deixar ir, soltar, respirar
carregar na barriga, carregar no colo, carregar na mente
chorar, sorrir, dançar, cantar, observar, silenciar
promover a esperança,
promover o amor pelas plantas, pela alimentação, pelos animais e pelos outros seres humanos
praticar a solidariedade
praticar o amor por si mesma
sentir medo e depois deixar o medo ir, sabendo que ele sempre vai voltar porque você é mãe
ver seu corpo se transformar continuamente
beber bastante
sentir fome
acreditar que vai passar
arrumar o bebê e não se arrumar
querer demorar uma hora no banho e sair 5 minutos depois porque o bebê chamou
amamentar no banho
amamentar antes de fazer xixi, coco, ou qualquer outra necessidade que você tenha
partilhar sua filha com suas irmãs
encontrar mais fotos de sua filha do que suas, pra sempre
não se reconhecer no espelho
levar o bebê para o trabalho,
ter que ainda em 2019 convencer as pessoas de que o bebê é sua responsabilidade,
mas é também do pai e tem que ser da mesma maneira, com a mesma medida e carga mental porque senão é INJUSTIÇA
pai também carrega, se responsabiliza pelas demandas funcionais e emocionais de uma criança
(não) abrir mão do seu bem estar pelas demandas da família,
conflito intenso, interno e externo, contradição, superação,
paciência, resiliência, afeto, amorosidade, raiva, sono, muito sono, saudades...
aprender com a sabedoria do divino tempo: aqui e agora porque sou e somos
confiar
agradecer
voltar a brincar, tomar sorvete
se impressionar
cuidar
lembrar de baixar o tom sempre
"crianças gritam porque adultos gritam"
nenhuma crianças chora sem motivos
o choro é a manifestação do sentimento, assim como o sorriso
valorizemos o choro
falar de mim e falar de você
querer me reencontrar, mas não ser eu sem você
celebrar a vida
o nascimento
o cheiro do que é profundo e novo
errar também é preciso para nascer de novo



Consulta

- Os astros, você deveria consultar os astros.

...

Sentei no sofá não entendendo o que eu estava fazendo ali. Tinha as mãos vazias, os joelhos machucados, e os olhos cheio de lágrimas. Chorar na frente de um estranho era bastante cômodo para o que eu estava vivendo.

- O que aconteceu com os teus joelhos?

Era a pergunta mais inconveniente do mundo. Eu não queria responder a ninguém. Não queria que as pessoas me vissem, não queria me olhar no espelho, não queria mais sobreviver aos dias. O que se passavam ali era o retrato de uma vida de atuações. Segurar tanto e segurar firme todos aqueles sentimentos complexos faziam de mim alguém mais forte ou mais fraca?

- Suspensão.
- Explica.

Não era algo verbalizável. Ela deveria saber que isso de sentir não se diz, pelo menos não de modo a cumprir e contemplar tudo aquilo que se passa dentro de ti. Era justamente essa incompletude que justificava eu estar ali exatamente onde eu estava? Quando foi que me perdi dentro de mim?

- Pedras. Das mais variadas formas, tamanhos, pontas e mais pontas, cimento...buracos. Sabe, as coisas quando não são seguras?

Seu olhos se encheram de um brilho certeiro. Era como se ela esperasse essa resposta, para logo em seguida perguntar novamente uma pergunta ensaiada. Mas, ao contrário do que pensei, não tornou a perguntar. Olhou pra mim e disse: "uma palavra..."
Pensei por alguns instantes insistindo em não dizer o que sentia.

- Confusão.

Ela me pediu para repetir. Repetir essa palavra só me fazia pensar ainda mais na contingência de todos os sentimentos que somados apontavam para essa insegurança constante. Oscilei e repeti.

- Confusão, confusão, confusão.

De olhos fechados agora. Tornava a repetir. Ela insistia e eu pressionava. De repente, sua voz suave voltou; "Quero saber o que vem agora, em que lugar está essa palavra..."

- No estômago.                              
- Como ela é?
- Dolorida.

Pronto. Já estava falando dos sentimentos obscuros a mim até então.