segunda-feira, 22 de agosto de 2011

o tic e o tac

"trata-se
de me perder em mim
pra me livrar do outro"

Falou querendo explicar.
Incrível mania de se explicar.
Ela não tinha asas, mas isso não lhe impedia de voar.
O frio na barriga que lhe era constante,
passou a habitar apenas o seus sonos,
porque era lá que ela podia ver do alto.
Ver além deles.
E de todos os outros que a fizeram parar.
Ela não queria parar.
Mas como tudo que marca,
aquilo lhe veio para fazê-la quebrar o relógio a fim de parar no tempo.
Notoriamente estagnada. "
Isso não é do seu feitio" - percebia os olhares aflitos e curiosos
para entender como teria,
alguém,
conseguido lhe fazer perder a hora.




domingo, 14 de agosto de 2011

oras

já tentei me livrar do relógio
pra me desfazer do tempo,
joguei ao mar
que me trouxe de volta
todo enferrujado
um relógio
que não marca mais
as horas
insiste em me lembrar
instantes
e é exatamente
agora.

o sobe e desce da memória


Sempre antes de dormir, ouço o barulho de um balanço enferrujado que voa impulsionado pelo vento e interrompido pela chuva: brilha, reluzindo a tinta de uma memória que não falha, mas também, como haveria de falhar quando aquilo que mais marca é justamente a saudade dos dias acabados...

sábado, 6 de agosto de 2011

6 de agosto de 2011

Acordei perto das 13 horas. Perdi uma manhã de um dia que se fez com sol em todas as extremidades da casa. A chaleira chiando no fogão e eu insistindo em tirar tudo de mim para esboçar um breve diálogo ameno com o meu inconsciente que não me deixa um dia sem um sonho. Essa noite sonhei que estava lá, num lugar chamado: Natal. As pessoas procurando definir todas as coisas, resolver todos os problemas, fazer de suas vidas sentidos escritos. Adeus, céu azul. Estou seguindo essa mesma sorte, mas já nem sei se por escolha ou por razão. Dói bastante não saber por onde ir quando o caminho já parece estar trilhado. Eu só queria acordar e recolher as folhas secas da sacada. Mas tem sempre algo mais. E não é um jardim pra regar, não literalmente. Não são bocas para sustentar, nem pés pra esquentar. É algo que eu vivo tão sublime e ao mesmo tempo feroz que me come, que me mata, que me preenche. Um tipo de pressão que se faz de fora pra dentro e depois se inverte, quando você olha o calendário e precisa cumprir todos os prazos, não por conta de datas comemorativas, ou pra ter alguns dias de férias no verão. O que eu faço não tem tempo para respirar, porque estou o tempo todo pensando no que deixei de fazer, no que poderia ter feito e isso, às vezes me impede de fazer as coisas no momento em que elas devem ser feitas. É como se tivessem duas forças me puxando, uma pressiona pra cima e a outra pra baixo e eu fico na inércia do que sempre poderia ter sido, mas deixou de ser para cultuar ausências. Lembranças. A água acabou de ferver, perdoe-me a desistência, mas escrever assim não é o que me salva, aliás, escrever assim é o que me prende.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Bem, deixe-me falar da tempestade. Sim, aquele grande acontecimento no céu que parece latejar aqui dentro. E por todos esses dias cinzas onde o único som era o da chuva quando não interrompida pela chaleira, estive ausente. Ausentei-me por motivo de doença. Senti-me doente por repetidas 24 horas. Doente do corpo eu ainda posso superar, meu problema tem estado em adoentar-me da alma. E aquele som de água batendo na calçada e formando uma poça funda, levando os resquícios dos nossos últimos passos não facilita em nada a minha recuperação. Viajei por milhas e milhas e ainda respiro o mesmo ar impregnado de ontens. Os mesmos dias, nessa mesma época do ano. Agosto não foi doce para aqueles que não sabem amar. E agora me vem sendo assim, simples agosto, simples, chuvoso e frio, agosto. Lembro-me apenas do tempero que era do teu gosto e de todas as vezes que me escondi evitando acontecer os tão temidos acidentes. Covardes em agosto, setembro, causando dores e tristezas e angústias e melodias pelas metade em outubro. Resbalando num cruel novembro, desatando um difícil dezembro. Começando em janeiro ou fevereiro? Terminando em março. Abril só abriu mais e mais feridas que ainda não haviam terminado de se fechar. E maio? Solidão e desacatos. Por desamor, por insistência, por rebeldia, e novamente a tamanha covardia. Adia, adia, eu me repetia, quanto mais o fazia, mais ardia. Junho chegou trazendo tempestade silenciosa acompanhado de julho, acobertado pela descrença e ilusão. Julho passou rasgando, felicidade instantânea. Desgosto, é tempo. Quanto tempo? Dizem que passa em dois ou três anos. Fico sofrendo vendo o tempo ser roubado de mim quando nenhuma espera recompensa a falta que me faz todos aqueles dois ou três dias felizes que vivi em meados de outros tempos. Cansada de tapar buracos, inventar histórias assim como essa que veio a fim de me livrar dos traumas. Salvar agora? Salvo, mas um dia o salvo de mim.