terça-feira, 1 de maio de 2012

Fraude

Inventei uma dor pra adiar meu compromisso. E não é que meu corpo acreditou! Se espalhou rapidinho por toda a extensão do meu pescoço e dessa vez, não havia pelos que protegesse as partes mais sensíveis. De cor leve e rosada passou a ser cinza, amarelo, pera com um tom de vermelho envelhecido. E a música de fundo não parecia ser mais alta do que as batidas aqui de dentro. Todas as concentrações de pensamentos em um só ponto, o ponto chave, e pronto, estourou: eu acho mesmo que eu sou uma fraude; até onde eu posso fingir sentir o que sinto, sonhar o que sonho, escrever. 

Inventei. Inventei um compromisso pra me adiar. E não é que quando vi já estava dentro demais pra desistir agora! Os ponteiros do relógio e as datas do calendário, todos também inventados, convencem nossa estadia de que não há tempo, é tarde, é tarde, é tarde, é tarde; já diria o corredor dos sonhos. Tempo? Que tempo é esse capaz de mandar em quem eu sou? "Tu só faz isso pra mudar a si mesma, não significa que irá mudar as coisas ao teu redor". Não diretamente, contemplei o raciocínio. Se fosse dessa forma será que seria menos perigos de lágrimas, cores em metamorfose na própria garganta, menos sulcos. Sulcos, sulcos, sulcos de dor.

É essa mania atual de querer adiar. Adiar e adiar e adiar. Quando eu passar a olhar o tempo de frente, sem esquecer das ancoragens, das rugas, das saudades, quem sabe eu possa adiar essa prática de adiar. A começar por essa escrita que chegou pra adiar a outra. Tenho andado em círculos e isso pode ser por esse medo enorme de olhar o tempo de frente. Eu deveria parar de pensar no tempo e tentar fazê-lo. 

Vou inventar um calendário pra mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário