terça-feira, 7 de maio de 2013

Castanhas no quintal

Era mais um dia de verão e os pneus da tua bicicleta vermelha, antiga, derrapavam candidamente pela estrada de terra. Naquele tempo ainda não tinha asfalto na frente do teu quintal. Não lembro se tu viveste suficiente para ver o asfalto brotar. Muitas vidas brotaram na tua horta singela antes de tua partida. 
Lembras daquele morango vermelho e pequeninho, do tempo em que não tinha veneno, a terra e o ar eram limpos o bastante pra fazer nascer a fruta mais doce no inverno e a mais refrescante no verão. 
E mesmo azeda, eu e meu primo adorávamos arrancar limões frescos do pé, descascar e comer com sal. Naquela hora, não importava mais nada. Queríamos saber quem era o mais forte, que aguentaria um limão inteiro. É claro, que ele, acostumado com a vida na terra saía pulando e rindo de mim quando eu desistia na metade. Brincávamos de circo no teu quintal. Duas cadeiras compunham o cenário. Eu era a assistente do malabarista. Ele equilibrava uma laranja na cabeça e jogava outras duas pra cima, com muito treino, acelerava cada vez mais. Eu prestava atenção com os olhos brilhando e ao mesmo tempo torcendo para fazer meu número torto de contorcionismo. 
No inverno tinha pocan. Costumávamos sentar todos no sol quente após o almoço com cestos cheios de tangerinas e pocans. Não existia sensação melhor do que descascar esta fruta e sentir os gomos suculentos. Até hoje sinto água na boa ao lembrar. 
Neste momento, tu sabes que lembro de ti com saudades de criança e utopias de juventude. A pessoa que me fez, pela primeira vez em minha vida, questionar as coisas ao meu redor. E percebê-las, devagar e aos poucos. 
Queria te contar sobre aquelas castanhas que jogaste no quintal. Parece que hoje havia um cesto coberto delas. Enquanto me contavam, só conseguia pensar em teus olhos complacentes. Meu coração pulsa de felicidade ao saber dos teus frutos. Quero sonhar contigo hoje...

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