terça-feira, 12 de abril de 2011

"Mas..." - ela parou para ouvir aquelas palavras, por incrível que pareça, dessa vez em silêncio -"...Você já parece perdida de você faz algum tempo, não é?"

Tinha sido pega de surpresa. Por poucas vezes isso acontecia e quando acontecia, ela nunca queria admitir sua fraqueza perceptível. Tinha lido essa semana um fragmento que a fez doer um pouco, a fez lembrar muito, a fez fechar os olhos e repensar mais uma vez nessa tal imagem de estar tão perdida dentro de si mesma, ou para fora do que estava ao seu alcance. Só podia ir até onde acabava seu limite e seu limite - dessa vez - era o outro, a vontade do outro de não estar ali.

E leu novamente, antes de responder impulsivamente a pergunta curiosa acima: "Este documento é para que em qualquer lugar que esteja, antes de sair, nunca plante uma constelação nos olhos de quem nunca viu a luz". E doeu de novo, como todas as vezes que ela voltava naquela mesma página para ler a mesma frase destacada em meio ao "documento de saída". "Antes de sair" - pensou ela, "Antes de sair" repetiu. Revozeava enaltecida pelas palavras que latejavam sua consciência. Reviveu...

Era noite. Quase madrugada pode se dizer.
(como dói relembrar, mas era preciso se livrar de mais essa memória, de mais essa promessa não cumprida)
De roupa limpa, cabelos que cheiravam a noite nem tão quente, nem tão fria de um quase verão submerso de partidas. Seus pés vestiam nada mais que as calçadas e pronta para ir em frente (pela 3ª ou 4ª vez naquele ano) ela disse estar preparada para dançar: Sozinha. O pior não foi dizer estar pronta, mas acreditar que estava. Ela acreditava desgraçadamente que podia continuar, ver e não estremecer, chegar perto e não latejar o peito. E só ela podia ter a certeza de que estava pronta, por mais que todos desejassem que ela estivesse. Como aquele que se aproximou no meio de todos e disse: "Que vontade de te beijar agora, mas eu não posso fazer isso". Ela o encarou e saiu sorridente, ciente de que sua segurança estava de volta e bem presa entre suas mãos pequenas.

Desfilou com olhos brilhantes. Dançou, correu, participou de abraços que talvez só fosse sentir daqui a uns meses outra vez. Voltou a crer. E o mundo inteiro aplaudiu a sua volta, pelo menos antes daquele amanhecer.

Eles se olharam. Entreolharam. Estava tão cansada desse plural existir só no papel que desejou ter uma borracha para apagar tudo aquilo, porém também estava decidida a não olhar pra trás e por isso, esqueceu. Só que para ele não era tão simples assim. Premeditado. Se drogou consciente de que aquilo o impulsionaria. Não era covarde, era apenas imaturo. Segurou-a pelas mãos o mais forte que pôde e os dois partiram dali.

Mas para onde? Muito bem, agora eu lhe pergunto: para onde você vai levá-la? Para de novo enfraquecê-la. Eles não tinham para onde ir porque nunca eram dois, nunca foram. E ele pede pra que ela fique e ela cede talvez desejando mais do que pudesse acontecer, novamente idealizando, protagonizando a mocinha que é enganada, mas não se vinga porque no fim nunca deixa de acreditar. Ou porque não acredita é em vinganças. Ou ainda, porque apesar de tudo ela lhe quer tão bem...

E chega a hora do "documento de saída". O chão é o que resta para eles e é lá que eles fazem o seu lar, rodeado de planos e promessas que não passariam daquela noite, ou que só chegariam até o amanhecer, ainda emocionados.

"Namora comigo? Vamos namorar?" - Não era verdade, ela não podia estar ouvindo isso depois de 3? 4? 5 meses de idas e voltas nunca prontas.
Deitados no chão, olhando pro céu...ouviu-se a voz baixinha cheia de receio dela: "Sim." E lá foram eles, deram as mãos e não olharam pra trás. No caminho, mais uma vez ela o ouviu recitar o futuro dos dois: "Eu vejo a gente junto pra sempre, você não tem medo disso? Eu vejo a gente junto..." Ela não respondeu com palavras, talvez nem conseguisse falar. Segurou a mão dele o mais forte que pôde e caminharam pra onde talvez fosse o único lugar que abrigou suas histórias (e que hoje nem existe mais).

Naquele momento, as roupas pareciam ser uma burocracia tamanha. Amanheceram vestidos um pelo outro. Só que não foram feitos um para o outro e por isso, quando ela o viu abrir os olhos já imaginou quais seriam as suas palavras.

Saiu de lá sem forças e agora, meu grande amigo, eu posso muito bem te responder:
foi depois de tudo isso que eu me perdi.

Um comentário:

  1. ando ouvindo algo como: "fique sempre com o melhor, deixe o pior para lá.. o material pode ir, mas as boas coisas ninguém, nem ele, pode te tirar."

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