segunda-feira, 10 de outubro de 2011

um vislumbre de morte

Têm dias (ou noites) que a mesma terra que te trouxe ao mundo, insiste sorrateira em te levar de volta. Uma energia, feito imã, vai exercendo sobre o teu corpo, uma força tamanha, sem espaço pra salvação. Ou é preciso cair pra se salvar? Tive medo, diante desses vislumbres, senti não ter controle sobre o meu corpo e quis voar. Nessa madrugada, fará um ano do meu segundo vislumbre de morte, meu primeiro voluntário. Um ano da noite em que as árvores me chamavam enquanto risadas serviam de sonoridade para o meu salto. Mas se aqui escrevo agora, é porque me faltou coragem. E a tão ousada covardia que adiou a minha ida, trouxe de volta os meus olhos perdidos na imensidão do nada que tomava conta do meu passado recente. É pra lua que o meu hoje se entrega. Ontem ela me olhou de longe e foi se aproximando aos poucos derrubando o muro instaurado entre o céu e a terra. Tocou primeiro meus olhos, depois meu rosto como um todo. Não tive medo de me afundar nos seus poços de mistério. Apenas estive entregue. Como há muito não havia estado, eu vivi a ausência do nada por aqueles instantes. Após um ano, fui dominada por um vislumbre de vida. Sim, me deu vontade de ficar. Ficar pra viver as reticências (des)cobertas. Quando naquela curva, o carro me entregou ao chão, desejei, enquanto passava lentamente o filme preto e branco da minha curta vida, não ter partido. E te visito agora em memória para que nunca esqueças do dia em que me devolveste a vida, tirando-me dela.

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