domingo, 25 de dezembro de 2011

Noite de vésperas

- Vinde a mim as criancinhas.

E repleta de crianças eu era mais feliz (ou menos cética).

Escrevo hoje para reverenciar o eco que clama por uma voz inexistente.

- Onde estás que não aqui?

Não te encontro se não me esforço (com dor) para revirar memórias e cansaços.
Já faz algum tempo, parei de pedir pra ti e comecei a perguntar por ti.
E nesse esforço pendente por repostas avulsas, lembro-me bem das palavas recentes que mais me marcaram: "A memória é aquilo que fica depois que o esquecimento faz o seu trabalho".
Como lido com tantas lembranças relidas, empecilhos, vírgulas em meu caminho.
Precisava transformar toda essa agonia em água e sal, mas o tempo se encarregou de secar a fonte do meu poço de desabafos e nem lágrimas me são possíveis.
Autuar em degradação papeis, tintas e pedaços.
Para mim, não profetizaram flores e todas essas pessoas cantando em adoração a algo que já partiu só enfatizam a minha impotência diante dos mortos.
Acreditar na não existência deles, não significa estar liberta dos fantasmas que me assombram.
Dia após dia. Ano após ano. Lamúrias e sensação de asfixia perante a inexatidão desse mundo. Pareço estar me acostumando a colocar minhas memórias pra dormir ao lado de meu corpo frio coberto de solitude, todas as noites. E toda aquela história de petrificação a minha vida tem condenado. Talvez seja essa a profecia. Não ouço mais os gritos das crianças desesperadas, não temo mais o vento da volta dos mortos, não sei se quero ser esse soldadinho de chumbo retirado das histórias para enfeitar pinheirinhos de vésperas. Recordo, ainda, a angústia feliz daquilo que antecede. Mas tenho sido vencida pela antecedência, o procrastinado fim daqueles que não se realizam. E no entanto, continuo me antecedendo. E antecedo aqui este começo que nunca cede e que nunca cedo. Por isso escrevo e por isso vivo cada anteceder e nem mesmo acendo porque não mudo e porque não vejo.

Eis meu consolar: "Mas quem sente muito, cala; quem quer dizer quanto sente fica sem alma nem fala, fica só inteiramente".

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