domingo, 1 de julho de 2012

Traição

Perco-me no calendário... 
Ao voltar as origens, volto também a caligrafia no tempo esquecida diante do hábito da digitação. 
Quando foi que me cortaram a linguagem?
Demorei tanto para reencontrar em mim a escrita adormecida e a despertar para num segundo, em um piscar de olhos: o ano passou. Já não sou mais a mesma, me deixei morrer diante das investidas dos outros, me calei. 

Não era para ser o caos, isso não era para ser o caos.

Escrever não era para ser dor,
nem obrigação, 
nem desvontade,
desprazer, 
descida. 

Escrita não era morte. 
Escrita era para ser marca e vida, marca de vida, identidade e história. 
Por que deixei que me invadissem e negassem minha identidade? 
Quando foi que morri? 
Do caos, revejo minha vida agora. 
Se ela não tivesse chegado. 
Quem sabe onde eu estaria. 
Poderia ser a mesma história.
A palavra, a única que eu tenho, talvez seja isso que me faz sentir tão fundo.
Depois que eu acabo de dizer nunca é aquilo que eu queria ter dito. 
Eu me traio com palavras. 
Um romance era muito mais real se terminasse com morte. 
Você nunca saberia realmente o que eu sou. 
A minha mentira é maior e mais forte do que todos esses bailes de máscaras. 
Pormenores. 
O som do violão acode a nossa dor e o silêncio separa a finitude dessa relação. 
O meu crime foi nunca ter falado. Um dos meus crimes. 
Escrita, doce fuga. Ficção. Possibilidade de traição e de mentira. Desabafo cordial. 
Nunca posso ver o que virá, mas tenho escrito o que já foi.

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