domingo, 21 de novembro de 2010

Meu querido,

Senti você comigo hoje quando levantei da cama, acho que você estava pensando em mim. Tive um fim de semana tranquilo, não bebi mais e me sinto em paz aqui onde estou. Pra lhe falar a verdade, não queria voltar. Talvez, aquela vida conturbada que tenho levado longe daqui, tem me deixado inconstante e tem sido responsável pela minha vontade de sempre ir embora. Perdi a paciência que me era inerente e o respeito dos meus pares. Queria usar aquele adesivo que dita: "estou em silêncio" para ver se consigo controlar meus ataques inconsequentes em que cuspo as palavras nos olhos dos outros para me defender de algo que eu nem sei o que é.
Por outro lado, tenho dormido novamente. Não lhe procuro mais nas noites que embora sejam de verão, ainda sopram ventos para me lembrar dos fantasmas do inverno. Meus pais estão preocupados comigo. Chamam-me idealista, politiqueira, altruísta e às vezes dizem: "Você não é Madre Teresa", mas sou Maria, respondo sempre em pensamento. Não sei me adaptar aos ditados dessa vida, você sabe, não sei ser hipócrita e fingir que o mundo está bem quando a doença da desigualdade se espalha como um vírus sem cura. É, meu bem, eu estou crescendo.
Queria falar de nós dois. Sinto falta do seu cheiro e das suas mãos. Sinto falta de deitar de bruços ouvindo Beatles e ficar pensativa esperando você sair do banho, de não responder quando você me chama esperando que me encontre sem a minha voz para guiá-lo. Sinto falta do seu olhar de reticências que foi substituído por esse de dor ou pena, duro e insensível. Andei pensando tanto esses últimos tempos e descobri parte de nós.
Se você me permitir: Eu não queria que insistíssemos em algo que estava destinado ao fim, seriamos duas pessoas infelizes em um relacionamento de mentira. Por isso, não poderíamos nos manter ali. Apesar de os "se" sempre me perseguirem porque, no fim nós nem tentamos. Nós brigamos muito quando percebemos que ia acabar, talvez pelo desespero de ter que se abandonar mesmo não querendo, ou por ter que aceitar que química não mantém amor. Não queríamos nos deixar. E passaríamos muitos dias juntos, felizes por não estarmos separados. Sei que não nos falamos há algum tempo e isso me proporcionou sobriedade suficiente para lhe escrever calmamente agora. Não estive em Roma, mas preciso citar uma passagem da história de lá para que você possa compreender. Octavio Agusto construiu um lugar maravilhoso em Roma para poder guardar as suas coisas. Quando os Bárbaros vieram, destruíram isso e todo o resto. Como ele pensaria que Roma, o lugar que era tudo pra ele no mundo, estaria em ruínas um dia? É um dos lugares mais quietos e solitários de Roma. A cidade cresceu em volta dele todos esses séculos, como uma ferida preciosa, um antigo amor que você não quer esquecer. A dor é tão boa, queremos que as coisas continuem as mesmas, meu amor. Vivemos infelizes por termos medo de mudanças, de ver nossas vidas acabar em ruínas. Então, pensei nesse lugar e em todo o caos pelo qual passou. A forma como foi adaptado, queimado, destruído. E ainda achou formas pra se construir de novo. Talvez minha vida não tenha sido tão caótica assim. O mundo que é, e a armadilha é se apegar demais a ele. Ruínas são um presente. São o caminho para a transformação. Perguntam-me se estou pronta, assim como você havia me dito que estava. E eu respondo: Agora estou. Devemos estar preparados para todas as transformações. Merecemos mais do ficar juntos por medo de sermos destruídos se não ficarmos.

Aonde você estiver, estarei lhe mandando luz e amor.

De sua eterna Mi.

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