quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Por onde eu tenho andado? Perdi-me nas entrelinhas taciturnas do anseio de me amar e com tanto amor que depositei em mim, esqueci-me de como era se sentir amada pelo outro. E corri, e chorei e caí, desmistifiquei as palavras colecionadas por uma teoria falha. Falho, sou eu que tenho falhado no imediatismo desse sentimento que não pode passar. Sei o que quero, mas o que quero eu não quero. E têm olhos que tentados por me aprisionar deixam-me livre para amar. Não quero um consolo, colos passageiros, coesões e coerências. Quero palavra que fica. Porque eu sempre fico e me estico na tentativa de puxar de volta tudo aquilo que escapou por alguns centímetros de medo. E se eu não gostasse tanto...tem tamanho gostar? Tem sentido que solto, voa inspirando liberdade e respirando solidão. Onde estou? Labirinto de proezas e frases soltas, textos desconectos, distâncias sintaticamente sentidas. Seleciono lugares por onde andei, mas não encontro saídas. Sou sempre confusão e de conflito em conflito acendo lentamente o fogo da desilusão. Desmerecida, abro espaço para outra voz que tem tomado minha consciência na tentativa de resolver meus sonhos distorcidos:

Ajoelhei-me
deitada no chão
contei as goteiras
as gotas
abri
fechei
abri fechei
a janelinha esmiuçada do banheiro

nada se prende ao chão
nem o pó
a masmorra
movimentada do dia

contei o tempo
arregacei as horas
insisti
refalei
adoeci
nada
nada
nada
foi a resposta
das minhas perguntas

até a sombra de uma cadeira
marcada na parede
parece mais livre
que essa história

até esses enfeites de macela
sobre a mesa
começos de escada
até tudo isso
não respondeu a pergunta

eu sou cega-surda
ou deveria ser mesmo muda

ou sou apropriada
fina folha de sulfite branca
pasma

ou a tentativa de me unir ao chão
ao pó assentado nas prateleiras
não passa de um tênue reflexo

sobre meus sentidos

escondidos
vistos
faltados e ouvidos

desmerecidos

Ryana Gabech

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