quarta-feira, 28 de julho de 2010

Queria largar tudo e ser poeta
Porque não me encaixo nesse mundo
Se desagrado por isso
Finjo
Porque fingir é o que mais faço
É o que fiz até hoje
Hoje?
Nem chão, nem tempos
Tenho vivido de momentos
"É que não se mede por calendário"
Nem se oculta por meias vontades
Daquilo que toco
Sinto
Daquilo que ando
Ouço
Do pouco que sou
Vejo
Nada ficou é por isso que escrevo

Talvez a melodia não feita
A alegria mal vista
O cigarro roubado
Passa
Tudo passa por mim
Que por não se poeta
Sonho

"Tempo, dá um tempo?"

terça-feira, 27 de julho de 2010

Tenho tido dificuldade em ser Racional
Ser Racional é admitir que a vida é sofrimento

Para mim
O sofrimento dos loucos
Para ti
A loucura de saber

Que tenho sofrido aos poucos
E não por pensar, nem por viver
Mas por ti

Não que contigo não seja vida
Nem pensamento
É nota Si

Se acontecer
Se permanecer
Se apaixonar

Deixa-me ser Racional
Afinal, se envolver é para os outros



quarta-feira, 21 de julho de 2010

Havia deitado para esquecer suas dores. Fez-se silêncio - nem chuva lá fora, nem ninguém aqui dentro - e o transe do entre-lugar começou. Não ocupava a verdade de estar desperta e nem a ilusão de estar desligada do mundo. Era o pequeno espaço de entre um e outro por onde ela andava agora. Os olhos fechados trouxeram a sensação de estabilidade que ela carregava consigo desde quando ele havia a deixado. Era instável apenas para os outros porque para ela tudo estava claro e nada a fazia sair do seu estado de segurança. Para os pés gelados, um par de meias. Para as mãos que restaram vazias, um lugar logo abaixo do travesseiro. Não precisava sentir que estava composta de outro porque nenhum outro era capaz de acolhê-la da forma que ela precisava. E não sentia medo por isso. Aliás, fazia tempo que não sentia medo, assim como fazia tempo que não chorava. Trocou de lado duas vezes antes de finalmente deixar-se levar pelo sono que parecia insistir em não vir. Em tempos de guerra dormimos com um olho aberto e o outro fechado. Aquele silêncio ensurdecedor a estava terminando de matar: "aquele que te faz ouvir a voz mais baixinha". Foi quando aconteceu o primeiro estado de calamidade. Ouvia-se barulhos de sacolas sendo mexidas como se o vento tivesse conseguido transpassar a janela fechada do quarto de Sofia. Engoliu a seco aquela saliva de tensão e pôde sentir o barulho se repetir. Imaginou o local de onde parecia vir aquele movimento e não se lembrou de ter deixado sacolas jogadas após a limpeza do quarto. Insistiu no sono e cruzou as mãos num ato desesperado de oração. Agora seus pés e mãos voltavam a congelar e não era por falta de alguém. Revirou os olhos na procura desesperada por um outro corpo físico que pudesse estar no local, mas era humanamente impossível. A porta do quarto encontrava-se trancada e o colchão em que Sofia deitava impedia a passagem de algo, alguém, outro sem encostar em seu corpo que no momento tremia um pouco. Mudou de posição pela terceira vez. Agora, deitada de lado podia sentir uma instabilidade por trás de seu corpo frio, porém coberto até o pescoço. Não gostava disso, não gostava de coisas que desafiavam a lógica que ela traçava para si, tudo o que podia tirá-la do seu estado de controle. Como aquele menino do sorriso singelo, cabelo bagunçado, sotaque diferente por quem ela se apaixonou quando tinha 12 anos. Sofia queria dormir, precisava dormir. Sua vida seguia precipitadamente na manhã seguinte e seus medos tinham que ser superados para que pudesse atingir seus desejos maiores. Sofia queria que se apaixonar fosse o maior dos seus problemas como acontecia com ela quando tinha 12 anos. Mas o tempo se encarregou de fazê-la amadurecer conceitos e entender suas fragilidades para que sentimentos incomuns não a dominassem novamente. E isso a fez não chorar mais. Dizem que quando se cresce, aprende-se a segurar o choro. Para Sofia não era preciso segurar, o choro não vinha mais para ela, nem mesmo a vontade de chorar sem lágrimas. A cama vazia ao lado não continuou ocupada por tanta ausência quando ela pôde sentir algo, alguém, outro, puxando a sua coberta. Achou justo, alguma coisa por mais estranha e sobrenatual que fosse teria que conseguir tirá-la da comodidade pela qual estava tão envolvida, onde os sonhos passam por despercebidos quando deveriam fazê-la atravessar o oceano para encontrar um pouco daquilo que perdera após a ida de alguns e a travessia de outros. Acostumada demais com a ausência Sofia desistiu de tantos que suas duas mãos não continham dedos suficientes para fazer essa conta. Agora, ela rezava. Voltou a rezar porque até a crença a pequena havia abandonado quando desistido. Pediu para algo além do que ela vê ajudá-la a seguir no sono ou que fosse sonho. Sentia o corpo pesado por uma energia carregada e depois abriu mão de continuar enfrentando o medo e tentando dormir. Arregalou bem os olhos e ficou por dois minutos juntando forças para criar coragem e acender a luz. "Covarde Sofia, você é uma covarde", foi capaz de dizer a si mesma quando não insistiu na briga pelo espaço do seu quarto. Com a luz acessa e a música tocando, Sofia pôde aceitar definitivamente o que estava um pouco incompreendido por ter chego a ela precocemente: é mais fácil lutar contra aquilo que se vê.

"À noite
fantasmas das coisas não ditas
sombras das coisas não feitas
vêm
ante pé
mexer em seus sonhos."

Paulo Leminski: quem me leva do trivial ao incondicional.
- Was the moment of my life.
- This is the moment of your life.
- You were perfect.
- I'm still.
- On the way to the hospital I kissed you forehead.
- You pervert!
- The driver saw me kissing you and said: "She is yours?" and I said: "Yes, she is mine."
"She is mine"

Closer: the words that remain even when one has to go.

domingo, 18 de julho de 2010

Aventura sem número:

"o meu cérebro tá perdendo de 6 a zero pro meu coração"

Alice olhou para os lados a procura do coelho que insistia em desaparecer. Aquilo não fazia sentido, pois há dois segundos ela podia vê-lo, branquinho, felpudo correndo pela cidade cinzenta devido a chuva que insistia em permancer por aqueles dias de frio. O brilho das placas iluminando o cenário a fazia pecorrer dezenas de quadras sem desistir do primeiro objetivo: achá-lo. Aliás, achá-lo não era objetivo para Alice, era desejo. Nem todo desejo é objetivo. Têm objetivos que somos motivados a traçar. O desejo é algo mais pessoal, vem de dentro, daquela pontinha de angústia que faz aquela música tocar quando ninguém quer ouvir e só você consegue sentir. Alice não sentia mais, só desejava. Parecia que era porque seus olhos não conseguiam percorrer mais os mesmos corpos sem perder o senso. Não se trata de ser certo, muito menos do que chamam de errado, ela queria apenas achar o coelho felpudo, de olhos vermelhos e pelo branquinho.
De repente, as luzes da cidade se apagaram e como se não existisse mais nada a escuridão tomou conta do mundo da pequena menina perdida. Nem gritos de desespero pela falta de lugar ela ouvia. Com as mãos geladas devido a garoa fina que caía sobre o seu corpo, Alice percorreu as cegas 6 ruas obtusas enquanto seu coração batia de entusiasmo. Não tinha medo, nem os buracos da estrada a impediam de seguir traçando as linhas tênues que invadiam sua segurança. E quando menos esperava ouviu mais uma vez o saltitar do coelho que dizia: "é tarde, é tarde, é tarde, é tarde, é tarde"... Quando pôde ouvir a voz do bicho, tranquilizou-se, entretanto não poder ver nunca a impediu de acreditar que aquilo existia de verdade.

...


quarta-feira, 14 de julho de 2010

"303.

O mundo é de quem não sente. A condição essencial para ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção - a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projeção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projeção da personalidade é essencialmente o atravessarmos-nos no caminho alheio, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.
Para agir é, pois, preciso que nós não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. O homem de açcão considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte - ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima.
O exemplo máximo de homem prático, porque reúne a extrema concentração da acção com a sua extrema importância, é a do estratégico. Toda a vida é guerra, e a batalha é, pois, a síntese da vida. Ora o estratégico é um homem que joga com vidas como um jogador de xadrez com peças do jogo. Que seria do estratégico se pensasse que cada lance do seu jogo põe noite em mil lares e mágoa em três mil corações? Que seria do mundo se fôssemos humanos? Se o homem sentisse deveras, não haveria civilização. A arte serve de fuga para a sensibilidade que a acção teve que esquecer. A arte é a Gata Borralheira, que ficou em casa porque teve que ser.
Todo o homem de acção é essencialmente animado e opstimista porque quem não sente é feliz. Conhece-se um homem de acção para nunca estar mal disposto. Quem trabalha embora esteja mal disposto é um subsidiário da acção; pode ser na vida, na grande generalidade da vida , um guarda-livros, como eu sou na particularidade dela. O que não pode ser é um regente de coisas ou de homens. À regência pertence a insensibilidade. Governa quem é alegre porque para ser triste é preciso sentir.
[...] Manda quem não sente. Vence quem pensa só o que precisa para vencer. O resto, que é a vaga humanidade em geral, amorfa, sensível, imaginativa e frágil, é não mais que o pano de fundo quanto o qual se destacam estas figuras da cena até que a peça de fantoches acabe, o fundo-chato de quadrados sobre o qual se erguem as peças de xadrez até que as guarde o Grande-Jogador que, iludindo a reportagem com uma dupla personalidade, joga, entretendo-se sempre contra si mesmo."

Bernardo Soares - aquele que me fez acontecer, ainda que em mim.


terça-feira, 13 de julho de 2010

...
- É só fechar o pericárdio.
- E pra você funciona fechar os olhos?
- É.
- Não deveria ser ao contrário? Afinal, quando os olhos se fecham é porque seguros...
- Por isso, talvez seus olhos permaneçam semi-abertos?
- Por isso, talvez seja melhor fechar os olhos.
- Foge ao controle.
- Talvez irracional, inconsciente...
(interrupção)
-...inconsequente?
- Na horizontal.
- Não me venha falar de horizontes quando seus olhos se fecham.
- Mas não é melhor fechar os olhos?
- Nada é melhor quando não se tem.
- E ter é melhor?
- É falhar.
(silêncio)
-...com aquilo que sou.
- Eu vivo à disposição da falha.
- Você não tem ideia do que é falhar porque se quer.
- Eu falho porque eu sou.
- O erro é a minha segurança.
- Seus olhos são a minha segurança.
- Você não pode ver além deles.
- Lucidez?
- Pericárdio.

"Quando eu era pequena tinha medo do escuro e medo de ficar sozinha. Sentia a respiração de alguém invisível atrás de mim, me sentia vigiada por almas penadas, era como se estivesse cega diante de um precipício. Não me movia para não cair. Crescida resolvi provar a mim mesma que havia me curado dessa fobia..."
...Deixei o sonho de ser médica pra cuidar daquilo que os outros sonham. Cuidar daqueles que não sabem o quanto podem fazer a diferença. Ainda tenho medo do fantasma embaixo da cama e meus pés ainda não conseguem dormir sem sentir o calor do cobertor. Só que meus sonhos ultrapassam os limites do inenarrável, as minhas loucuras não se restrigem a voz que ouço diante dos meus medos. Aquela que diz: - Pare! Por aí você pode se ferir. Vou mais além. Ignoro as vozes sem corpo e persigo minhas ideologias que são utópicas quando perante sua restrição. Agora não sei como vou seguir e não saber é o meu caminho. Quem disse que precisa ser estável pra ser possível? Precisa ser. Janelas incobertas, escadas ingrimes, geladeira vazia. A minha alegria é percorrer. Não sigo pela rapidez ou coerência e falhar é a minha ida, a minha motivação e o meu viver. Porque ser humana é a qualidade daquilo que se sente, daquilo que se sente independente. Daquilo que se alcança por ti e do que perde por ser. Ainda posso ouvir as luzes que não vejo, mas eu sinto cheiro de saudade e como todos sabem aquilo que não está aqui faz mais parte do que sou do que aquilo que ouso ser.






sexta-feira, 2 de julho de 2010

torna-te quem tu és.