quinta-feira, 1 de março de 2012

Laura

"Sim, eu estou tão cansado, mas não pra dizer que eu não acredito mais em você...
Sim, eu vou tomar aquele velho navio, aquele velho navio"

Fiquei sentada algumas horas pensando no nome da personagem principal dos meus anseios. Tomada pela ânsia e pela ousadia do sentimento de liberdade cortado no meio. Até que ponto essa vida é menos prisão? Gostei de Laura. Eu sempre gostei de Laura. Ela tinha uma faísca nos olhos que não deixava transparecer seus sentimentos cômodos. Laura tinha tudo para ser mais uma burguesinha vivendo a era da "mania de libertação", onde noites boêmias eram uma fuga dos padrões de vida da classe média. Entrou em confronto direto com seus pais, perdeu a esperança nos mais próximos, falou atoa aos quatro ventos, assistiu peças de teatro e leu as críticas na mídia alternativa. Laura não era diferente das milhares de meninas que se encantam pelo mundo visto com lentes de aumento. Ou pela ideia de ver o mundo de uma forma diferente. Só que quando Laura voltava para casa, ela não queria deixar de ser a menina que tinha se transformado. E sem ninguém que compartilhasse as mesmas ideias, ela era apenas a menina que saiu de casa mais cedo pra não ter uma família. Ninguém entendia que estudar para ela significa muito mais que uma mudança de posto nas estatísticas econômicas do governo. Estudar era admitir a vontade de sentir dor. Lembrou, por vezes, das palavras de sua amiga de infância: "Quando eu descobri que estudar indignava, resolvi que preferia dormir". Só que para Laura, não tinha mais volta. Por insistência, por gostar da solidão, por não ver sentido na vida, por ser naturalmente inconstante e por fim, por todos aqueles motivos que lutam os que ainda lutam. Por que será que alguns têm tanta disposição para escolher a dor?

- Agora me diz, espelho meu, existe alguém mais masoquista do que eu? - Seus olhos fecharam enquanto mais uma madrugada quase que insone informava a Laura que as suas escolhas não importam pro mundo, estão, na maioria das vezes, predestinadas a morrerem consigo.

E o sentimento de morte é o que se leva da vida.

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