sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"Benjamin disse, certa vez que a primeira experiência que a criança tem do mundo não é a de que 'os adultos são mais fortes, mas a sua incapacidade de magia'. A afirmação, proferida sob o efeito de uma dose de vinte miligramas de mescalina, não é, por isso, menos exata."

Giorgio Agamben

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Não se pode tocar a felicidade sem magia. E se fomos tomados por um sentimento de introspecção provocado por esse encanto em que tanto nossas crenças quanto nossas memórias passaram a fazer sentido naquele pequeno instante onde o impossível tornou-se história, é porque não sabemos que somos felizes. Essa falta de conhecimento de nossa felicidade é que nos torna felizes: "só é feliz quem não sabe". Encaixamo-nos na ótica das crianças desesperadas que criam um mundo para si, mudam de nome e correm de pés descalços por aí. "Mas de uma felicidade que podemos ser dignos, nós (ou a criança em nós) não sabemos o que fazer": portanto, silêncio. Tivemos alucinações de olhos abertos e fechados (mais abertos que fechados - mais fechados que abertos). Misturamos nossos sentidos, praticamos com o corpo a sinestesia da alma. E depois sorrimos eufóricos. Com o transitar das emoções, a energia se traduziu em desdobramentos de caminhos sem volta, ainda mais força corporal. E força, e jeito, trejeitos, tato insaciável, busca interminável: tentativas. E como felicidade não se espera e nem se alcança (não para nós) ela simplesmente nos significa: "ela só nos cabe no ponto em que não nos estava destinada, não era para nós. Ou seja, por magia." A nossa consciência daquilo que fomos, daquilo que somos, mudou após algumas perdas de apetite, pensamentos e falas incomuns. Percebemos que tanto a mim quanto a ti, destacava-se o detalhe em meio a mania de grandeza que o mundo tende a enxergar. Fomos tomados pelos grandes conceitos, (re)tomados, (re)virados, (re)voltados...mudando o significado e dando significância às experiências. O retorno ao mundo perdido, a perspicácia da criança mistificada: "esta é a essência da magia que não cria, mas chama". Ocasionalmente não tão restrito assim, faltou-nos a atenção que nos prendia à rotina, o desprendimento do nosso pensar daquilo que não nos provocava mais é, no entanto o que nos trouxe a vontade. Mudamos com relação ao tempo. Vestimo-nos de camaleões para com a realidade e abusamos de suas cores. A perda do auto-controle marcou por impulsividade os nossos atos, o ego se foi..."a magia não é conhecimento dos nomes, mas gesto, desvio em relação ao nome". A perda do ar, o cansaço e a insônia também zelam por nós assim como a ansiedade. Desejamos não desejar e isso é tudo. Mas somos desejo enquanto saudade, presença quando distância, procura em meio ao etanol. Isso é o pânico e a certeza de que não se viverá para dar nome ao todo: "Ter um nome é a culpa. A justiça é sem nome, assim como a magia".


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