terça-feira, 7 de setembro de 2010

é de cor opaca isso que sinto. e tenho estranhado a forma de como essa cor tem se apoderado de mim, passo a passo, pouco a pouco, sem deixar vestígios para outras cores, mais fortes ou ainda mais fracas, mas cores que dialoguem com algum sentimento interior e não essa falta de cor, ausência de ego, ladrão de destino. essa falta do que sentir me rouba o pensamento e tenho insistido em criar teorias de que isso pode ser sim um sentir. um sentir pouco apreciativo que nada tem em comum com aquele que te faz tremer as pernas e perder a fome, mudar de endereço e esquecer seu verdadeiro nome. esse não-sentir é o lugar do isolamento, o limbo dos sentimentos. é como andar sem curvas, prever o caminho e acertar sempre, o fim da busca sem nem sequer ter um começo. como pode ser inexistente se provoca esse desassossego, sonho infundado, existir sem tropeços. e ouvi dizer que não ama apenas vive, desfruta do prazer como momento sem sentido de permanência. e ouvi dizer que não chora, somente seca as saudades sentidas de quando sentir ainda significava. e ouvi dizer que não canta, apenas reproduz o canto dos que ainda sentem. e ouvi dizer...ouvi dizer tantas coisas sobre mim e sobre você que enche toda essa ausência de fatos e carência de vidas, de um palpitar suspeito. parece que quando a gente vira conversa dos outros (ainda que estes sejam nós mesmos) as nossas entrelinhas passam a ser (ainda que pequenas e de um vazio imenso) um pouco daquilo que torna saudável a nossa fuga. e as cores? melhor que sejam opacas do que se constituam como ausência de luz, porque esse retrato ainda que apagado não copactua com a ideia da cegueira, já se sabe que até a falta de sentir é um sonho com possibilidades de se realizar.
é um não-sentir sentindo, porque eu sinto ainda que não..o que é então?

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