domingo, 29 de agosto de 2010

"Olhar com amor requer um tempo que pessoas de passagem não podem e não devem ter"

É inverno e contar o tempo por estações tem mostrado o quanto tudo tem passado tão rápido por nós. Ontem, pude sentir a linha do tempo preto e branca correndo como um filme de nossa autoria, autêntico e intenso, rodar por milésimos de segundos em minha mente. Lembrei da vez em que te vi de cabelo descolorido, tu e mais dois de ti, cantando como se aquilo fosse a coisa mais bonita de nosso mundo. E, talvez, você tenha levado a sério demais e cantar é a coisa mais bonita da tua vida. É o motivo da vinda, mas agora, existe enquanto partida. Perder você para os teus sonhos não me entristece, mas não posso deixar de falar do buraco que você ousou traçar em mim quando decidiu ir embora. Muitos não gostam de mim no início, alguns permanecem não gostando e raros (você se inclui aqui) conseguem decifrar um pouco do que sou e entendem que para se gostar de verdade, é preciso ter paciência e pode levar estações inteirinhas. Ouvi de você há dias: "Parece que eu te conheço há tanto tempo" e esse foi o mesmo dia que conheci a tua história. E me apaixonei. Apaixonaria-me por ti em outras estações se tivesse tido a chance daquela noite, em que te ouvi falar sobre teus sonhos, ilusões, desejos, satisfações e coragens. E sabe por que eu me arriscaria por ti? Porque reconheço, de imediato, uma alma que me completa. Estou em busca dos meus hiatos perdidos em cenários que desconheço, você pode não saber, mas preenches uma parte de mim que se chama verdade. Eu gosto do modo como quando as coisas chegam em tuas mãos, tornam-se verdade. Você faz de letras, músicas. Faz de sons, melodias. E, podes ter certeza, você faz de mim, perseverança. Até em marte eu pude ver a lua da tua ótica caótica, mas ao mesmo tempo simples. Porque sim, você é simples e isso o torna singular para mim. O teu sotaque que insistiu em continuar mesmo aqui onde os dialetos se misturam fazendo de todos um só, torna a tua essência ainda maior. Pra quem diz que você não se encontrou, grito: Quem é que precisa se encontrar para fazer aquilo que acredita? Metas? Planos? Não sejamos tão reducionistas. Eu adoro o modo como você pega na minha mão ao falar comigo. Gosto do fato de abrir a sua geladeira e não encontrar absolutamente nada. De você almoçar cachorro-quente todos os dias e não enjoar, ao contrário, satisfazer-se com isso. De como a minha garrafa de café permanece da mesma forma que eu a deixei em outras estações na mesa da tua sala. Da maneira como você apertou forte a minha mão no dia em que o sono nos tomou e fomos impulsionados por um sonhar repentino. Amo o jeito que teus olhos fecham quando você toca Cazuza, e quando tocou pra mim sem nem mesmo ter ensaiado. Eu amo o teu improviso. Tuas reticências que controlam a minha expectativa. O modo como pra você, nada importa, contanto que tenha um violão, uma noite e meia dúzia de cervejas geladas. Gosto da maneira que você faz sorrir tantas outras sem despertar os meus ciúmes. Do carinho com que você deposita palavras pra mim. Queria enumerar todas as coisas que me fazem gostar de você, mas acredito que sentimentos não são enumerados, são contados e é por isso que eu conto. Conto pra ti o quanto o teu canto me faz te querer bem, em paz e fazendo, aqui, ali, acolá, aquilo que você mais ama: encantar pessoas com o som da tua música e encantar a ti mesmo com o escrever da tua história, que eu sei, começa agora, ainda que longe, mesmo que distante. Espero que a saudade seja tema de muitas das tuas canções porque emite por meio da distância toda a natureza daquilo que se sente, quando se sente.

"Eu queria te levar comigo." - Ouvi você dizer enquanto deitada em seu colo me enchia de saudades.
"Me leva, então." - Respondi apertando o mais forte possível a minha cabeça sobre o teu peito, sabia que eram as últimas palavras, por enquanto, por isso quis fazer delas eternas.

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