sábado, 7 de agosto de 2010

Sim, pintei as unhas de vermelho. Comecei a me arrumar duas horas antes do encontro combinado. Eu não me contive. Por um milagre, a primeira roupa que provei me agradou e assim, segui nos preparativos. Minha mãe sempre disse que "o melhor é o que antecede a festa" e como mãe, ela sempre tem razão. Meus olhos ganharam um contorno preto pra ressaltar o castanho claro escondido pelos meus cílios. As bochechas levemente rosadas. Não sou de muita maquiagem, quase não uso sombra, mas adoro um rímel e um blush. O engraçado é a contradição que fica. São nessas horas que a gente se prepara para uma liberdade imensa. Mas a confiança não vem conosco, precisamos nos proteger por roupas que quase não usamos, sorrisos que quase não damos e salto alto. Tem coisa mais desconfortável do que salto alto? Tem. Aquele sujeito que te incomoda quando tudo o que você deseja é dançar no centro da pista. Essa é a hora de maior liberdade. Quando você só quer fechar os olhos e sentir a música te invadir inteiramente: a cada batida ser tomada pelas mãos e conduzida por uma força além de ti. Mas tem que ter alguém pra te trazer de volta, quem te faz abrir os olhos e te mostra que era ilusão, essa noite não seria a da batida perfeita. Pretendia só dançar e quando o cansaço me invadisse eu já tinha para onde ir. Repirei fundo a fumaça que vinha de baixo e sorri. Meu sorriso é a minha maior arma. Ainda que quebrado, pela metade, sem mostrar os dentes. É ele que mantém essa minha selvageria em insistir que está tudo bem, pois nada foge ao meu controle. E que mania que eu tenho de controlar o mundo, principalmente quando ele insiste em sair das minhas mãos. Querer ter sempre o controle é de certa forma, uma maneira masoquista de enfrentar as coisas, já que controlar não é sinônimo de querer, mas de necessidade e aquilo que necessito é bem diferente do que quero. Tenho necessitado tantos e desejado tão pouco. Esse desejo pequeno me assusta. Afinal, "eu sou porque não me contento"e hoje acrescentaria mais uma palavra a essa frase que um dia usei para me definir, sou tanto porque não me contento quanto porque não me contenho. Por isso acabo em mim com tudo aquilo que parece me agradar. Sei que é ilusão assim como a paixão, mas acredito que a consequência enquanto prevenida é bem menor do que aquela que vem daquilo que nos cega. Por isso, fechar os olhos somente quando estou no meio da pista de dança assegurada pela batida do som que não tem hora para acabar, até que o próximo chegue.

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