quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ela era inconsistência, impulsividade, corajosa, saudosa. E por conta disso, as pessoas tinham facilidade para amá-la. Porque nessa rotatividade incomprensível ninguém conseguia fazer com que ela parasse para entender a si mesma e ao mundo. Seus sonhos eram fragmentados e não tinham rostos que coubessem em suas perspectivas. Por não conseguirem segurá-la - nunca - a amavam ainda mais. Ela sempre ia embora antes que pudessem desistir dela. Era complicada, não conseguia falar de si para quem desejava. Não conseguia falar para ninguém aquilo que sentia. Não precisava suportar as dores porque não chegava a sentí-las, essa era ela.
Era ele. Andava. Perguntava sem parar. Agia antes dela. Sorria porque sentia. Agradecia todas as vezes que se encontravam. Pegava nas mãos dela. De improviso e de impulsividade, usava todos os meios que pudessem estreitar a relação inconstante e ambígua deles dois. Sonhava com paixão, mas partia sempre. Partia ainda mais aquele sentimento que já era parcelado. Embriagava-se porque precisava se libertar e quando tomado pela liberdade voltava para ela. Ele não se reconhecia mais. Nem seus planos, nem seus medos. Quanto mais ela corria, mas ele a puxava de volta. Quanto mais ela pensava, menos eles se realizavam. Quando parou de pensar, começou a se questionar. Ela era feita de coragens, mas foi calada pela vontade de ficar.

Ele disse: "Sabe sobre tempestade?"
Ela disse: "É tudo que tenho vivido"
Ele disse: "Eu não tenho vivido..."

Diante disso, mais um silêncio premeditado. E agora? - pensaram os dois tentando desvendar toda essa parte que não era para acontecer. Eles não eram.

"(Porque ela era uma guria que lê, e hoje quando ele acorda, ele não sente mais nenhum ciúme e é possivelmente aclamado com tanto calor humano. Não há mais presença feminina que respeite o seu sono, e sente com as pernas cruzadas e o livro no colo, desviando atenção. Hoje ela é uma leitora voraz de outros corpos e comportamentos, e sente uma imensa falta daquele contato improvável entre uma menina que lê, e alguém que o faz tão pouco. Ainda mais, quando pela manhã.) "

— Camila Paier

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