segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Fechei a porta após acompanhá-la até metade do caminho de partida. Vestindo apenas uma cueca e uma regata, me joguei na cama tentando não sentir mais uma vez seu cheiro impregnado naquele travesseiro. Eu tento não gostar, eu juro que tento. Mas menina, por que você foi se apaixonar logo por mim? Se é que você está apaixonada. Só que eu tenho lido seus olhos, observado seus passos curtos para não ter que ir embora, decorado seu sorriso e o som da sua voz quando conversamos por horas na madrugada. Será que dessa vez você comprou a passagem, esperou o trem e embarcou nesse vagão? Justo no meu.

Eu que sou tão livre, agora. Eu que não quero te deixar passar fome quando você fica. Eu que não quero te deixar tomar banho sozinha depois desse nosso fazer sexo que dura intensamente antes do dia amanhecer. Eu que não tenho para onde ir. Justo por mim.

Observo você dormir e desisto de estar enroscado em seu corpo porque não quero lhe passar tanta segurança assim. Afinal, "a manhã seguinte sempre chega". Sempre chega a hora de você partir e de nós dois seguirmos como se na noite anterior não tivéssemos trocado olhares apaixonados até o segundo em que nos viramos tentando nos encaixar diante da velocidade do nosso desejo incontido. Ver você partir e não admitir que é bom estar ao seu lado faz de mim um pouco mais forte nessa história de fraquezas. Porque dessa vez eu não quero lhe perder e pra não lhe perder eu não posso cair na tentação de lhe enganar. Então toma, pega o meu silêncio e faz dele o que a sua imaginação permitir.

Menina que um dia chamei de minha. O que o tempo foi capaz de armar pra nós dois? Derrubou as certezas e nos colocou nessa enrascada sem nome que nos faz ficar assim, tão a espera quanto sem esperar. Eu não espero nada de você e você tampouco de mim. E nós dois vamos vivendo como se não nos quiséssemos. Continuamos jogando que é pra não perder a magia. Eu digo pra você se cuidar e você me responde com um olhar receoso de quem queria ouvir mais que isso. Dou-lhe um beijo tímido e lhe coloco na primeira poltrona que é pra eu não lhe perder de vista. Depois me viro e não olho para trás. Você se vai e também não arrisca me olhar. Ficamos novamente na encruzilhada das reticências recheadas de conjunções... -"e se"- que terminam em advérbios definitivos - "e nada".

E ficamos assim, brincando de nada e apostando no nada que é pra não ter perigo de ninguém sair perdendo. No fim, preservamos a esperança de que nenhum dos dois se perca.

Até o fim.

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